ANO DO PREC – DEPOIS DO 25 DE NOVEMBRO – DIAS 26 E 27 - CAPÍTULO V

Entretanto passava da meia-noite, já era 27 de Novembro de 1975. Na secretaria da CCS, toda iluminada, já estava o 1º Sargento Pereira a tratar da papelada, que, neste caso, era um passaporte de dez dias para cada um. A confusão era grande. Na maior parte dos militares persistiam dúvidas sobre a facilidade da passagem à reserva. João, junto dos seus melhores amigos, levantava exatamente essa questão. O “estado de sítio” ainda estava em vigor, como é que era possível o 1º Pereira estar a garantir que íamos sair do quartel durante a noite?

À entrada das 3 companhias formaram-se bichas pirilau e, à vez, de dentro das secretarias, iam chamando os números de cada um. Era mesmo verdade, estavam a entregar passaportes individuais de dez dias e a comunicar que o espólio deveria ser feito na Unidade, a partir do dia 2 de Dezembro e até ao último dia de validade do passaporte.

O Vilaça apreciava o movimento de lado, mas muito apreensivo com o que se ia passar com ele nos dias seguintes. Já tinha sido chamado e dito que ia ficar até ao fim do seu tempo previsto que era o final do ano. O Mata e o Albertino vinham na direção do João para lhe mostrarem o passaporte, quando o 1º Sargento Pereira gritou o seu número. Lá foi confirmar que ia para a disponibilidade e, aproveitando, perguntou ao em que situação é que estava a obtenção da carta de condução civil, uma vez que a tinha requerido de acordo com o regulamento em vigor. O Sargento procurou… procurou e, numa exclamação recheada de sonoridade: “AHHH! Ora cá está o processo, muito bem… mas agora já não serve para nada!” E, num gesto rápido e enraivecido, rasga em oito bocados, a capa do processo com os papéis que tinha dentro, atirando tudo para o lixo.

João e os outros militares que ali estavam ficaram a olhar para o homem, completamente transtornado, sem perceberem o que lhe passou pela cabeça. Não disse mais nada, entregou o passaporte ao João, disse-lhe que tinha que fazer o espólio até ao décimo dia a partir do dia 2 de Dezembro, mandou-o sair e esperar até o voltarem a chamar. João ficou atordoado com a cena mas, porque o mais importante não era a carta de condução, saiu para a rua e foi ter com o Albertino, com o Mata e com o Cruz, que vinha já despachado da secretaria-geral. Tema de conversa não faltava.

(Continua)
(Partes do escrito “25 de Novembro do ano do PREC” de Silvestre Félix)
(Baseado em fatos verdadeiros com nomes e situações ficcionadas)

SBF

AS PRESIDENCIAIS E OS DEBATES TELEVISIVOS

Pelas audiências, facilmente se confere que os portugueses não ligaram patavina aos debates televisivos entre os candidatos presidenciais.

Ainda assim, tomando com muito esforço, como úteis no esclarecimento dos eleitores, os ditos debates, quem se lembrará deles e dos temas abordados, quando as urnas abrirem às 8h da manhã do próximo dia 23 de Janeiro de 2011?

SBF

ELES, TÊM O PODER DA UNIÃO!

Um comissário de Bruxelas afirmou ser muito perigoso para a economia da União Europeia, as aquisições de capital-controlo por parte de estrangeiros, principalmente chineses, de empresas europeias que ocupam setores-chave.

Em circunstâncias normais seria legítima esta preocupação mas, o que está a abrir portas a estas investidas, é a opção europeia dum caminho recessivo em vez de expansionista.

Na prática, o que vai acontecendo, é que os únicos investimentos concretizados, têm de fato origem chinesa e dos outros emergentes. A Alemanha, maior potência económica do espaço europeu, desde que abandonou o princípio solidário e comunitário, em vez de investir nos outros países da UE, desinveste. Definiu uma área de influência com os seus satélites, e tudo o resto é para apertar até os pôr de joelhos. Portugal está neste último grupo.

Sendo assim, e porque a Alemanha e a FrançaSarkozy, cinicamente, tem esperança de se safar do domínio alemão – têm o poder da União, literalmente mandam na Comissão, no Conselho e até no BCE, os periféricos, como nós, na tentativa de compensar as medidas de austeridade a que estão obrigados, procuram captar investimento noutras paragens, fora a União.

Neste quadro, é caricata esta intervenção do Comissário da Industria. Ainda por cima diz que a “Europa deve responder politicamente”. Pois bem, a única forma da Europa responder eficazmente é, pelo menos no âmbito do euro, centralizar a dívida soberana e adoptar políticas expansionistas, de forma a pôr as economias a crescer e, assim, quebrar os juros e faturar mais-valias para pagar a dívida.

Mas, como a Alemanha só quer a solução para si e seus satélites, nada feito!

Vamos ter que nos virar em definitivo para os Lusófonos, Ibero-Americanos e outros emergentes, mesmo que tenhamos de abrir mão do controlo de algumas empresas.

SBF

FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE FUTEBOL

Com os novos estatutos da Federação Portuguesa de Futebol adequados ao atual Regime Jurídico das Federações, as Associações Distritais perdem representatividade na Assembleia Geral da FPF de 55% para 35%, daí, a sua resistência, ou pelo menos de algumas, em chegar a acordo quando à redação final do documento.

Tudo se move em função do caciquismo, mesmo que estejam em causa os superiores interesses do futebol português. Estavam a preparar-se para eleições e, como, “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas”, lá estariam, defendendo os seus patrões, durante mais não sei quanto tempo.

Como (dizia o Variações) “quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga”, os senhores, que até agora mandam na Federação, têm de abrir mão do poder ou a FIFA decreta férias para o futebol português.

Apressem-se, e saiam de fininho com o “rabinho entre as pernas”!

SBF

ESTAMOS FARTOS DE DESGRAÇAS!

Está na altura da publicação e transmissão de tudo o que é resumos de acontecimentos de 2010 e previsões para 2011.

Não tenho nada contra a comunicação social antes pelo contrário, o que contesto é o tipo de jornalismo que, infelizmente, maioritariamente se faz e não é só em Portugal. As excepções, que existem, confirmam a regra.

Do que conheço melhor e do que me parece – não basta ser, é preciso parecer – os jornalistas portugueses (salvo as excepções) têm bem gravado no seu disco rígido algumas normas, e delas, destaco as duas mais importantes que servem de base para as restantes opções.

Primeira: De imparcialidade, política ou religiosa, fugir como diabo da cruz.
Segunda: O direito do leitor ou telespectador à verdade é uma treta.

Os resumos dos acontecimentos de 2010 e as previsões para 2011 vão ter em conta estas normas. A edição das peças escolhidas e a respectiva narração dependerá da tendência política e religiosa “vigente”. O resto do tempero, terá muito mais a ver com a necessidade de vender papel ou conseguir um bom “share” de audiência. Vamos ter resumos e previsões com todas as desgraças possíveis e, algumas, imaginadas. Tudo o que de bom haja, será ignorado na base porque não corresponde ao economicismo dos tempos nas TV’s e nos jornais.

A opção (da comunicação social) em colocar a desgraça permanentemente dentro das nossas casas, ignorando, nem que seja só para desenjoar, as notícias boas, tem contribuindo decisivamente para o pessimismo, tristeza, descrença e abatimento dos portugueses.

A notícia ruim, a denúncia do que, e de quem está mal, deve ser transmitida mas, de igual modo, deve ser reproduzida a boa notícia, tudo o que nos faça levantar o ego, e o que possa dar o "click" para acender o orgulho de sermos quem somos.

Estamos fartos de desgraças!

SBF

PERFORMANCE DE UM POLÍTICO

O tom alinhado do meu diapasão não é o mesmo dos partidos da oposição relativamente à mensagem de Natal do Primeiro-Ministro, no entanto, não posso deixar de ficar indignado e com o estômago às voltas, quando José Sócrates afirma que: “este é o único caminho”.

Ele devia saber que – porque não é “fraco de inteligência” – proferir esta frase vezes sem conta, enquanto e no papel de responsável máximo pelo Governo da Nação, não acrescenta, antes pelo contrário, nada de bom à sua “performance” como político.

A primeira lição dos manuais políticos contraria esta postura para qualquer função ativa do Estado. O Governo ou o seu “Primeiro” não pode afirmar pela televisão que é detentor da “verdade absoluta”, o que, na sua essência, quer dizer, «este é o único caminho». É preciso demonstrar respeito pelos adversários, pelas opiniões alheias e, mesmo acreditando que só o seu caminho está certo, e isso não é exclusivo do Primeiro-Ministro, é politicamente incorreto afirmá-lo em público, ainda mais numa mensagem de Natal.

Se alguém tivesse o «caminho certo» no bolso, não estávamos nesta situação!

SBF

A FAMÍLIA

Mesa e todos os acessórios no sítio.

Dum momento para o outro, fica a abarrotar de comida de toda a espécie e feitio.

Eu cá, voto pelas guloseimas.

Foi a ceia ontem e o almoço hoje muito esticados no tempo.

As prendas e o ritual da descoberta, até o gato está curioso.

A Família e o convívio compensa o

Consumismo e superficialidade deste tempo.

A “FITCH” E A TESOURA DOURADA

Era uma vez, uma tesoura muito grande e muito, mas mesmo muito valiosa, à custa das mais-valias acumuladas nos offshores obesos de tanto dinheiro comerem.

A tesoura está em modo de corte permanente.

A maneira como mais gosta de apanhar as vítimas é de cócoras. Esta posição favorece a amplitude do ganho vitamínico e especulativo.

As instruções de funcionamento são muito precisas. Os cortes têm de ser cirúrgicos de forma a não eliminar prematuramente a vítima. Assim, de nível a nível, o “cortado” vai continuando a vomitar q.b., para alimentar na dose certa os mercados que, nos seus resort’s resguardados, vão jogando cartadas antes de saltarem ao tabuleiro de xadrez para o xeque-mate.

Cada vítima, para além das hastes da tesoura dourada no pescoço, ainda têm, a roer-lhes os calcanhares, vários vigilantes encaixados nos respectivos Órgãos de Soberania, com o fim de defenderem bem os interesses declarados dos mercados.

Esta, embora comece por um: “era uma vez”, não é uma história da carochinha para os putos adormecerem.

É muito real e, se não nos pomos a pau, somos nós, os adultos e portugueses, que iniciamos um sono profundo sem bilhete de regresso.

SBF

PRATELEIRA DE LIVROS

Milagrário Pessoal de
José Eduardo Agualusa

José Eduardo Agualusa é, em si, a essência do espírito da Lusofonia!

O Homem, O Escritor, O falante da Língua Lusa, está sempre em muitos sítios com os oceanos por caminho e a nossa Língua como identidade.

O “Milagrário Pessoal” é uma linda caminhada pela história da língua portuguesa. O romance é de amores normais, entre pessoas, mas também e sobretudo, pela língua portuguesa.

Ao longo do livro, em que a narrativa é protagonizada por um velho anarquista angolano e uma sua aluna, ambos linguistas e “amantes” da língua lusa e da sua história. São feitas referências a muitos escritores e utilizadores ilustres da nossa língua, às suas obras a e sítios luso-falantes desde Olinda, a cidade museu de Pernambuco muito perto da grande Recife, até Dili em Timor-Leste, passando por Luanda ou Lisboa.

O autor valoriza a pureza da nossa língua na diversidade cultural dos falantes. A língua portuguesa é da comunidade lusófona e, para garantir a sua eternidade, deve ser dinâmica na inventariação e dicionarização dos neologismos.

Bom, dado tratar-se de um romance, o melhor é lê-lo e apreciá-lo. Também é uma boa prenda para este Natal.

José Eduardo Agualusa, nasceu em Huambo, Angola, em 1960 a 13 de Dezembro. Fez portanto, 50 anos há dez dias. Parabéns por isso! Vive entre Lisboa e Luanda com muitas incursões ao Brasil e não só. É dos autores lusófonos que mais aprecio.

Edição da “D. QUIXOTE” com 1ª edição em Setembro de 2010.

SBF

(Imagem: Cala do Livro do Site da Editora)

COMPRAS DE NATAL

Relativamente a 2009, os portugueses estão a gastar mais nas compras de Natal!

Não dá para entender!

SBF

SÓCRATES NO SEU PIOR

O alegado aproveitamento, por parte de alguns dos nossos políticos, da condição de pobreza de parte significativa da nossa população, com tendência claramente ascendente, não tem nada de extraordinário nem de novo.

José Sócrates, ao levantar esta questão em plena pré-campanha eleitoral, ao contrário do efeito pretendido, só ajudou a realçar o lado positivo das iniciativas do candidato Cavaco Silva junto desta faixa da sociedade. Os portugueses, duma forma geral, são muito sensíveis às ajudas em situações de pobreza e, invariavelmente, aplaudem todas as ações nesse sentido.

À partida, temos de admitir, que a presença de Cavaco Silva nestes locais, assenta em intenções genuínas e sinceras de transmitir apoio e conforto aos pobres e sem-abrigo na "pele" de Presidente da República e não, como os adversários querem fazer querer, de simples ações de campanha.

Considerando como possível uma ou outra razão, foi politicamente incorreto a referência de Sócrates a este assunto no discurso de Sábado passado. Está-lhe no sangue… a provocaçãozinha… precisava de quebrar a onda “de não agressão” que já durava há alguns dias, depois que não se queixe, “tiros no pé”, são diretamente proporcionais à quebra de muitos milhares de votos!

ANO DO PREC – DEPOIS DO 25 DE NOVEMBRO - DIAS 26 E 27 - 4ª PARTE

Naquele dia 26 de Novembro de 1975, a partir das dez e meia, onze da noite, o pessoal começou a recolher às companhias e, a maior parte, foi mesmo para a cama. João e os amigos, com o quartel de prevenção mas sem nada para fazer, foram ficando ainda na rua, do lado da parada e debaixo dos alpendres, falando e fumando, a ver se o sono vinha.
Faltava mais ou menos um quarto para a meia-noite, quando se começou a ouvir um barulho de motores, que mais pareciam tratores, aproximando-se cada vez mais. Instantes depois, dois Sargentos vêm a correr do lado da Porta-de-Armas gritando: São os Comandos, são os Comandos! Toda a gente foge e um deles, deita-se debaixo de uma Mercedes e fica em posição de espera. De repente, abre-se o portão do Quartel e entra uma “Chaimite”. Depois de parar, das suas "entranhas", saltam vultos negros de arma em punho e gorros enfiados pela cabeça que, em corrida, se dirigem às respectivas companhias. Pelo portão da Unidade entram mais viaturas, João e os amigos ficam desorientados e não entendem o que eles pretendem nem o que está a acontecer. Os invasores começam então numa berraria de doidos usando um vocabulário muito baixo, mesmo ofensivo: Toda a gente a formar na parada…, rápido seus cabrões, seus filhinhos da mamã, rápido… rápido, senão se despacham começam a levar nesse cu que não é brincadeira seus filhos da puta. Bem, todo o “calão” do pior que se possa imaginar.
Das companhias, saía o pessoal já deitado ou em vias disso, alguns de pijama ou mesmo um ou outro em cuecas. Os “comandos”, não davam tempo para os homens se vestirem e na forma como estavam, eram literalmente empurrados para a rua e obrigados a formar na parada. Os que já estavam na rua, foram-se aproximando do centro da parada e tomando lugar na formatura.
Em pouco mais de cinco minutos, aqueles “zelosos” comandos, conseguiram alinhar na parada, fardados, em pijama ou em cuecas, cerca de trezentos militares completamente desarmados. Tomou a palavra o comandante da força invasora só para achincalhar ainda mais os rapazes, e não era preciso. Já se sentiam bastante humilhados e, se já estava tudo decidido quanto ao futuro, para quê continuarem a ofender os filhos de outras Mães? João só ouviu as primeiras e as últimas palavras. Observou a reação muda de alguns dos seus colegas e, suspirou de alívio quanto o tipo acabou o discurso e deu indicação para nos dirigirmos às respectivas secretarias.
Entretanto passava da meia-noite, já era 27 de Novembro de 1975. Na secretaria da CCS, toda iluminada, já estava o 1º Sargento Pereira a tratar da papelada, que, neste caso, era um passaporte de dez dias para cada um.

(Continua)
(Partes do escrito “25 de Novembro do ano do PREC” de Silvestre Félix)
(Baseado na realidade com situações e nomes ficcionados)

SBF

JUÍZES E SALÁRIOS

Na situação em que está o nosso País, não é admissível que qualquer corporação se imponha à sociedade valendo-se da força da sua classe.

Estou a referir-me às posições ultimamente assumidas por representantes dos Juízes portugueses, através da sua Associação Sindical. O tom é sempre excessivamente “amargoso” e de ameaça com medidas e mais medidas até à greve.

Quando olhamos para os salários dos magistrados e verificamos que o vencimento mais baixo corresponde a mais de cinco salários mínimos, e que, mesmo assim, ainda querem ficar de fora da lógica de sacrifícios impostos a toda a funcionalidade pública, não podemos sentir nenhuma simpatia pelas suas reivindicações.

SBF

OS BONS E OS MAUS

Ao contrário do que ainda muita boa gente acredita, a nossa sociedade não é composta só de bons e maus!

Existem de fato pessoas diferentes que, na sociedade, se vão arrumando em grupos pelas suas convicções políticas ou religiosas, pelas suas origens étnicas e culturais e até, pela defesa dos seus interesses pessoais, na maior parte das vezes materiais.

É esta arrumação que, muitas vezes, com influência direta das lideranças, vai endurecendo e cristalizando determinada forma de estar na vida, levantando autênticas muralhas à sua volta provocando um corte radical com tudo o que não pertence ao “grupo”. Nesta altura do percurso do grupo, fica definitivamente válida, aquela velha máxima: «Quem não está connosco, está contra nós!»

No mundo Ocidental e também no nosso País, essa tendência de “só pensar e fazer para dentro”, está a desvanecer-se. As pessoas atuais, modernas e com uma visão futurista (no bom sentido), são pragmáticas e não vivem em função dum pensamento “blindado”.

No nosso caso, não conseguimos deixar de falar da classe política. Sob pena de saírem cada vez mais desacreditados aos olhos dos cidadãos, os “grupos” constituídos (partidos), têm de se modernizar rapidamente. Têm de se abrir à sociedade. Têm de se misturar com os cidadãos, utilizar a sua linguagem e perceber os seus problemas reais.

Já não chega, antes pelo contrário, dizer que o grupo A é que é bom e o grupo B e C não presta. O B ou o C, fazem exatamente a mesma que coisa que o A, se as circunstâncias forem as mesmas. Como agora se usa (e abusa) dizer, o paradigma tem de mudar.

Ah! É verdade!

Não existem só os BONS e os MAUS, existem também os ASSIM-ASSIM!

O AÇUCAR E A COMUNICAÇÃO SOCIAL

Até Sexta-Feira (mais ou menos) da semana passada, os “passeios” aos super e hiper-mercados, aconteceram normalmente sem nenhum empecilho ao habitual consumismo. Eis se não, quando num daqueles noticiários da noite das nossas “amantíssimas” televisões, surgiu a notícia de que havia falta de açúcar, e, numa onda multiplicadora como bola de neve, o pequeno fato inventado, se tornou num enorme acontecimento verdadeiro.

O comum do consumidor, que até aí não tinha dado por nada, tomando como certo o boato inventado, logo tratou de o transformar na mais louca das verdades. Correu a todos os lugares onde fosse possível ter havido descuido de consumo e, para sua satisfação e avareza, tudo açambarcou num abrir e fechar de olhos.

A inocente, atenta e rigorosa comunicação social, que, com alto profissionalismo se rege, não ignorou o importante assunto e – mesmo depois dos fazedores de açúcar garantirem que o consumo foi o dobro do ano transato – trabalhando a matéria horas a fio, não mais deixou o interessado espetador sem saber o resultado deste transcendente acontecimento universal.

Nesta quadra, não resisto à analogia:

«Notícia, é quando e como um homem quiser!»

SBF

CARLOS PINTO COELHO

Todas as pessoas são únicas mesmo quando de gémeos se trata, no entanto, a singularidade de Carlos Pinto Coelho, não só se comprova pela imagem transmitida pela televisão, mas, e principalmente, pelo homem de CULTURA sem limite que, com um íntegro sentido de serviço público, a colocou inteiramente à disposição da LOSOFONIA.

É difícil encaixar a sua profissão de sempre, no padrão do atual jornalismo. Que me desculpem os que o são, porque confirmam a regra, mas Carlos Pinto Coelho era outra coisa.

O “Acontece” foi acontecimento (passe o pleonasmo) único também. Durante nove anos, diariamente, apresentou e coordenou este magazine cultural na RTP2 que, por razões políticas, foi suspenso. Ficou célebre a frase do Ministro da tutela em 2003: «Sai mais barato pagar uma viagem à volta do mundo a cada espetador do “Acontece”, do que fazer o programa.»

Só que este, e muitos outros Ministros, esquecem-se sempre que a cultura dum povo não se mede por voltas ao mundo, e, muito menos, com uma máquina de calcular na mão!

Carlos Pinto Coelho, com 66 anos, ainda tinha muito para dar à CULTURA, aos portugueses e à FUSOFONIA!

Que descanse em PAZ!
(Foto: DN Online)

PRIMAVERA PROMETIDA

Olhando pela janela do terceiro andar em dias de luz lisboeta intensa de Primavera prometida, conseguia medir o tempo em horas, marcando, em linhas verticais, a passagem do Sol. Primeiro de manhã, beijando o estuário do Tejo começando pelo Mar da Palha até à direção de Cacilhas, depois, por cima das águas-furtadas e, por último e pela direita, lá se escondia atrás dos prédios.

Na janela do terceiro andar, ouvindo o “telim-telim” do amarelo que subia e descia a do Alecrim, sentindo e adivinhando os idos e entrados no Bragança, o meu peito ofegava e enchia-se de luz porque a Primavera ainda podia vir. O “Cacilheiro” que vem e a “Falua” que vai, completam a cena da tela cheia de cor e vida prometida.

Até o da Terceira que era Duque e antes de Vila Flor e se empenhou na empresa para recuperação da Constituição Liberal de 1822 em nome do Regente, Imperador dos Brasis e Rei de Portugal batizado de Pedro umas vezes primeiro outras quarto, mas sempre o mesmo, até esse… naquela posição de combatente depois da miguelada e vilafrancada absolutista e reacionária. Até ele teve a sua Primavera e admira e é admirado por todas as janelas da Praça e também pela do terceiro andar.

Até o Bernardino Costa, herói Bombeiro da Cidade e, por isso, com muita coragem, consegue abraçar o bom, o mau e o assim-assim, destes quarteirões, das gentes em vai e vem p’rós lados dos “pouca-terra, pouca-terra” mais o Tejo que corre sempre cheio depressa na vazante, não vá a Primavera chegar, até para lá de Belém e de Pedrouços até à Barra depois de passar o Bugio.

À mesma hora, diziam que o ditador de botas estava a dar o último suspiro!

No terceiro andar, pela janela virada ao Sol, eu, por momentos, horas e dias, acreditei que era Primavera, mas não veio, ficou ainda Outono e Inverno durante muito tempo contado em anos… E os lenços brancos continuaram a acenar…a acenar…e a multiplicarem-se sem parar…acenavam, acenavam e foram… e mataram e morreram!
(Imagem: Desembarque de militares portugueses em Luanda - 1961. Internet)
Silvestre Félix

SOBERANIA E DEMOCRACIA ONDE ESTÃO?

Aproxima-se mais um Conselho da União Europeia onde se vão tomar decisões que estejam de acordo com o desejo da Senhora Angel Merckel!

As propostas apresentadas no Ecofin por Jean-Claude Junker, Primeiro-Ministro Luxemburguês e Coordenador do Eurogrupo, à partida aceites pela maioria dos Estados membros do Euro, estão condenadas ao fracasso porque a Alemanha não as quer e, pior do que isso, conseguiu aliar-se à França para vingar melhor a sua afirmação de poder sobre todos os outros vinte e sete. Não perdem oportunidade nenhuma para confirmarem a sua determinação anti-europeísta. Continuam a não ver bem o que lhes pode também acontecer – É que, se a bonança não vier, a tempestade vai arrasar com toda a Europa, mesmo para além da zona Euro, incluindo naturalmente a Alemanha e a França.

Enquanto estamos neste limbo, a nossa soberania e democracia onde estão? De descanso, de férias ou em qualquer outra situação, mas, ativas é que não!

Hoje, a quase totalidade das grandes decisões que nos dizem respeito não resultam de opções dos nossos órgãos de Estado legitimamente eleitos. São medidas tomadas pelos Conselhos Europeus onde, como vai acontecer na 5ª e 6ª Feira, o que conta é a vontade da Alemanha e seus “satélites”, na Comissão Europeia que faz exactamente o que a Alemanha manda, nos escritórios cinzentos das agências de rating, nos grandes edifícios de vidro onde funcionam as sedes dos bancos alemães e, duma forma geral, nos bankers do grande poder financeiro universal.

Soberania e democracia onde estão?

SBF

“OLHÓMETRO” DO MUNDO

O novo “OLHÓMETRO” do mundo, em vez de dois olhos só tem um e, mesmo esse, só olha numa direção.

Precisa-se realmente dum “olhómetro” como deve ser, assim com um olho do género “camaleão”.

ANO DO PREC – DEPOIS DO 25 DE NOVEMBRO – DIAS 26 E 27 - 3ª PARTE

Num grupo, onde estavam o João o Cruz e o Vilaça, comentava-se a sensação estranha que era a quantidade de militares aquela hora dentro do quartel. A verdade é que, mesmo de semana, nunca lá estava toda a gente às seis e meia da tarde como estão hoje e como têm estado desde o começo da prevenção. Os Sargentos e os Oficiais do quadro estavam todos de serviço, alguns nunca tinham sido vistos a fazer o que quer que fosse, mas, nesta situação, lá estavam todos a tomar conta do Quartel. Os Milicianos estavam agora na expectativa, ou seja, a bola agora estava do lado do Comando. O João estava ansioso e continuava a ter dúvidas em relação à facilidade aparente em passar à peluda mas, para já, não havia mais nada a fazer do que esperar.

Estava na hora de jantar e começava a ouvir-se uns “zuns-zuns” de que o “Regimento de Comandos” já estava nas imediações e que não faltaria muito para entrar na Unidade. Informavam as “fontes”, que ainda não o tinham feito porque esperavam a confirmação de que os Milicianos estavam desarmados. O Vilaça, que era um dos que ia ficar no Quartel porque lhe faltavam poucos dias para concluir o serviço militar obrigatório, não acreditava na vinda dos “Comandos”. O Cruz achava que era bem capaz de acontecer isso e, o João, não sabia o que pensar, duma maneira ou doutra queria era acreditar que se podia livrar rapidamente da treta que era a tropa.

Para este jantar, o Albertino estava muito limitado porque o menu que lhe tinham destinado não dava para fazer “flores” – bifes com batatas fritas e ovo a cavalo. Não estava toda a gente a jantar mas, os que estavam, «faziam mais barulho que uma dúzia de “berlieres” a trabalhar», dizia o João enquanto se dirigia com o Cruz para a messe de Sargentos na ideia de verem o telejornal. Quando chegaram já tinha começado e lá estava bastante gente a olhar para a “caixinha” mágica.

Dava para ouvir o Comandante do Regimento de Comandos da Amadora a botar um discurso que não agradou nada ao João e seus amigos. Eram palavras que indiciavam agressividade em relação aos “rebeldes” e que não agoirava nada de bom para os próximos dias. Num momento seguinte, já estava no ecrã o Major Melo Antunes com uma posição antagónica à anterior, dizia ele que: “É muito importante a participação do Partido Comunista Português na construção do socialismo, é preciso o empenhamento de todos os portugueses incluindo os do Partido Comunista, etc., etc”. Estas duas posições quase opostas, deixaram o João apreensivo mas, mesmo assim, sabendo da influência política de Melo Antunes e sendo ele membro e mentor do Grupo dos Nove, era nele que devia acreditar, além do mais, o Regimento de Comandos estava às ordens do Grupo dos Nove.

(Continua)
(Partes do escrito “25 de Novembro do ano do PREC” de Silvestre Félix)
(Baseado na realidade com situações e nomes ficcionados)

PRATELEIRA DE LIVROS

Camarate – Um caso ainda em aberto
De: Diogo Freitas do Amaral

Freitas do Amaral era, à data do desastre de Camarate, Ministro dos Negócios Estrangeiros e Vice-Primeiro-Ministro do Governo de Sá Carneiro e um dos três líderes da AD. Embora nunca tenha afirmado categoricamente que o “caso Camarate” tinha sido acidente ou atentado, ao longo dos anos, sempre se indignou pela (aparente) falta de empenhamento das autoridades portuguesas, em apurar a verdade.

Pela leitura do livro, vamos descobrindo com o autor, situações caricatas que denunciam uma inacreditável (é o que parece) falta de vontade em levar o caso a Tribunal. Se assim foi, para os que o queriam, conseguiram. O caso prescreveu para a Justiça e, tudo o que ainda não tinha sido esclarecido, só o pode ser, a nível Parlamentar.

Diogo Freitas do Amaral destaca dois dados que, na sua opinião, são determinantes no apuramento de tudo o que aconteceu: Investigação sobre o desaparecimento de um telegrama enviado pelo Embaixador no Reino Unido para o Ministério em Lisboa, que ele próprio leu e despachou pelo seu punho e, investigação sobre a existência e movimentação, até não se sabe quando, do “Fundo de Defesa Militar do Ultramar” (FDMU).

O autor, Professor Diogo Freitas do Amaral, tem 69 anos é professor Catedrático, foi fundador e Presidente do CDS durante 12 anos. Teve, até agora inúmeros cargos políticos nacionais, sendo que, no âmbito internacional foi Presidente da 50ª Assembleia Geral das Nações Unidas (1995-1996).

A Edição é da “Bertrand Editora” e, a primeira, foi em Novembro de 2010.
(Imagem: Capa do Livro - Site da Editora)

O NOSSO PLANETA

A Conferência do Clima que hoje terminou em Cancún, no México, com 190 representações nacionais presentes, não conseguiu mais do que aprovar um acordo de princípio para adiar para mais tarde a aplicação da segunda fase do Acordo de Quioto.

O tão desejado e necessário “Acordo Climático Mundial” continua a ser um projeto, temporalmente indefinido e, o nosso planeta, quase sem tempo, continua na caminhada para o abismo.

Cada vez há mais danos com consequências irreversíveis e, por muito que os ambientalistas assinalem a importância da mudança nas opções energéticas, os “petroleiros”, protegidos pelo poder financeiro dos grandes impérios globais, não desistem no esmagamento de tudo o que são tentativas de encontrar alternativas boas para o planeta.

Os maiores poluentes, USA e China, continuam a não terem limites para a emissão de CO2 na atmosfera. A UE, também tem mantido uma posição de não firmeza na defesa de alguns princípios. A Alemanha e a França, também aqui, conseguem manietar algumas boas intenções de outros países membros e até da Comissão.

Cancún adiou tudo para Durban em 2011. É, nesta cidade da África do Sul, que se vai realizar a COP17. Vamos esperar mais um ano e ter esperança que, no final de 2011, a luz ao fundo do túnel para a recuperação da economia mundial já seja maior e, por isso, se veja melhor as questões do ambiente.

SOU UM TIPO COM SORTE

Estou satisfeito porque hoje é um dia SIM!

Os meus dias SIM, vêm sempre a seguir a um dia NÃO!

Por semana, tenho normalmente só dois dias NÃO e, os restantes, SIM, mas eu sei que há muita gente, mas mesmo muita gente, que não lhe chegam os sete dias da semana para encaixarem todos os NÃO!

Não tenho qualquer dúvida que sou um tipo com muita sorte!

A OCDE E A OPOSIÇÃO PORTUGUESA

A OCDE deu a conhecer esta Terça-Feira, os resultados do «Estudo Internacional de Provas de literacia de Leitura, de Matemática e de Ciências».

A organização indica no relatório deste estudo, que “Portugal foi o País que melhorou mais nestas provas da OCDE”. Na verdade, analisando os gráficos, Portugal aparece sempre no topo e no “Desempenho Científico”, é mesmo, o segundo melhor.
À parte das questões técnicas, quando ouvi a notícia, fiquei contente, como cheguei a pensar (como ainda sou ingénuo) que, a maioria dos portugueses iam ficar. São indicadores importantes para o nosso desenvolvimento e não são simplesmente dados económicos, tem a ver com a nossa escola, com a nossa capacidade de aprendizagem, enfim, com a melhoria de preparação para este difícil futuro, dos nossos filhos e netos. Também é uma boa notícia porque nos puxa para cima contrariando a tendência.

Mais uma vez me enganei!

O resto da manhã, pelo rádio do carro, nos espaços de participação de ouvintes, ouvi do pior que se pode dizer relativamente à OCDE, ao estudo, às escolas, aos alunos e, claro, ao Governo. Houve uma ou outra excepção que confirmam a regra. Naturalmente que os intervenientes nestes programas de “opinião pública”, vozes das estruturas sindicais dos professores e alguns comentadores que ao correr do dia também ouvi, não representam a maioria do povo português, mas, são eles que têm tempo de antena.
Por outro lado, também acho que o Primeiro-Ministro devia ter evitado invadir todas as vagas na comunicação social, para se engalanar de prestígio pelos bons indicadores apresentados pela OCDE. É assunto nacional importante demais para ele usar sozinho o palco daquela maneira. Com a sua cotação em baixo, a primeira consequência, é inversamente proporcional às suas pretensões. Tem efeito de íman com íman – Em vez de atrair, aumenta a distância!
A credibilidade destas organizações internacionais, como a OCDE, depende sempre: Dos resultados que transmitem e de quem aprecia, se é da oposição ou apoiante do Governo. As pessoas, mesmo o mais banal cidadão, não conseguem ser imparciais. Tudo se baseia na simpatia que se tem pelo partido que está no poder.

Os mesmos que ontem disseram cobras e lagartos da OCDE ou destes resultados, são os mesmos que daqui a um ano ou dois, quando (eventualmente) o Governo for doutra cor, vão tecer os mais rasgados elogios à mesma OCDE com resultados idênticos.

Somos bons alunos e aprendemos bem as lições dos líderes. A demagogia está a atingir, duma forma preocupante, o cidadão comum.

ECOFIN

No ECOFIN desta semana, mais uma vez, em conclusões, os emissários de Angel Merck disseram não a tudo. As propostas feitas por vários Estados Membros e pelo Eurogrupo eram, todas elas, numa perspetiva comunitária. A Alemanha não quer emissão de títulos de tesouro europeus nem quer aumento do fundo de estabilidade financeira. Ou seja, mais uma vez, a UE não consegue dar respostas consistentes para contrariar o poder absoluto dos especuladores.

É sabido que a Alemanha, e particularmente os bancos alemães, não estão perdedores com a atual situação, mas daí a pôr constantemente em causa os valores maiores da solidariedade da União, vai alguma distância e confirma uma Alemanha nada interessada em partilha, e, antes pelo contrário, só se interessando por ganhos próprios mesmo à custa do sacrifício dos mais fracos.

Nesta onda, a senhora tem tido um aliado de peso, Sarkozy no Eliseu de Paris. Estes, em consciência, (digo eu) estão a cavar a sepultura da UE. Só se estão a esquecer duma coisa – É que, muito do seu próprio crescimento nas últimas décadas, aconteceu na razão direta da existência da União.

Esta é a outra Europa de quem estamos cada vez mais longe!

POESIA DA VIDA

Magnificat

Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossível de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Jusoé para o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!

Álvaro de Campos
De: Fernando Pessoa

AÇORES E A AUSTERIDADE

Foi o Governo Regional dos Açores que dividiu os portugueses ao aprovar uma medida que discrimina uma parte dos seus funcionários regionais em relação a outros de igual modo regionais, e, a todos, a nível nacional, que estão com o mesmo nível salarial.

O Governo Regional dos Açores é que tomou esta escandalosa iniciativa.

Não é sério que o Presidente deste Governo Regional, dirigente nacional do PS, venha agora reagir, completamente a despropósito, a declarações do Presidente da República quando questionado sobre a situação.

SBF

RAZÕES DE CARÁTER

A evocação da tragédia de Camarate, como vem acontecendo todos os anos, juntou neste Sábado muita gente maioritariamente da área de influência do PSD e do CDS.
Mais uma vez, a tentação de fazer ressuscitar a AD (Aliança Democrática), foi tema de conversa e não escapou à primeira página de alguns jornais.
Pedro Passos Coelho e Paulo Portas referiram-se à possibilidade da constituição dum futuro Governo, envolvendo os dois partidos de que são líderes, o PSD e o CDS.
Por todas as razões e mais algumas que não é difícil descobrir, o PS não resistirá ao próximo escrutínio eleitoral. Só não sabemos quando é que este Governo chega ao fim nem quando haverá eleições.
Seja quando for, mantendo-se mais ou menos os atuais pressupostos, a vitória do PSD nas urnas é uma inevitabilidade. A questão que se põe, é se vai sozinho a votos ou se vai coligado com o CDS. Para garantirem à partida uma dinâmica ganhadora, é claro que é vantajoso irem já coligados.

Mesmo que assim seja, as motivações de hoje não têm nada a ver com as de 1980. As coisas agora são mais calculistas e, infelizmente, o tabuleiro está cheio de “interesses” para jogar. Sabemos melhor agora que, em 1980, os planos de Sá Carneiro passavam pela possibilidade de abdicar do poder, se Ramalho Eanes ganhasse as presidenciais como realmente veio a acontecer. Duvido que, pelas mesmas razões de carácter, e sendo Primeiro-Ministro, algum político no ativo hoje, tomasse idêntica atitude.

Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, podem coligar-se nas próximas eleições para formar Governo, mas… ninguém se iluda, não é a mesma coisa…passaram 30 anos, grande parte deles com má governação e, nem o primeiro é Sá Carneiro nem o outro é Freitas do Amaral ou Adelino Amaro da Costa, e o Arquiteto Ribeiro Telles também já não está no PPM.

ANO DO PREC – DEPOIS DO 25 DE NOVEMBRO – DIAS 26 E 27 - 2ª PARTE

A noite foi de pouco sono e de muita conversa. O Mata e o Cruz, bem informados pelos seus contactos partidários que nunca se percebeu qual era e se era o mesmo dos dois, se PCP, se UDP, se MRPP, se PRP, se PCP (ML) se LCI se, se… do PS, PPD ou CDS é que não era. Em todo o caso, asseguravam que a situação ia acabar por ser resolvida com calma. Mas permanecia aquela ansiedade e mesmo algum medo. Para o Vilaça as coisas eram mais fáceis porque já estava perto da “peluda” e, para evitar algum problema de última hora, iria sempre esperar por pouco mais de um mês. O João e o Albertino estavam mais preocupados. O João acreditava mesmo que a democracia estava a levar um “corte” mas, o que era certo, é que não havia informação nenhuma do que se estava a passar no resto do País.
Quarta-Feira, 26 de Novembro, amanheceu fria mas com sol. Às 8h30 da manhã, ao contrário do que era habitual, o movimento fora das companhias era residual. O Quartel estava com quase 300 homens lá dentro e, aquela hora, parecia que estava tudo ainda a dormir. Aí por volta das nove horas, de repente, como se tivesse sido combinado, mas não foi, o pessoal começou a aparecer e a ocupar os pontos solarengos. O refeitório e os bares foram-se enchendo com a fome a apertar e as conversas desenvolveram-se e multiplicaram-se de tal forma que, a meio da manhã, num crescendo de afluência, as armas começaram a ser entregues nas respectivas arrecadações.
À hora de almoço, já muito pouca gente tinha arma distribuída. O João não fazia ideia que era a última vez que ia almoçar naquele refeitório. O prato foi Bacalhau à Gomes de Sá que o Albertino conseguia preparar primorosamente para aquela quantidade de gente. Tal como a Dobrada com Feijão Branco do dia anterior, o gosto deste Bacalhau permaneceu pelo tempo fora na boca de João como o tivesse comido no casino. É que o seu amigo Albertino, quando foi obrigado a ir para a tropa, já se responsabilizava por algumas refeições no casino. Era, aos 21 anos, o braço direito do Chefe, na cozinha do casino.
Logo a seguir ao almoço e ainda antes da bica, o João foi entregar à arrecadação as duas armas que lhe estavam distribuídas. A partir daquele momento sentia-se mais leve e desresponsabilizado.
O dia correu manso e às cinco da tarde lá estava o ginásio cheio de gente. Foi feito o ponto da situação. O tal Major Segundo-Comandante pediu licença para intervir no sentido de transmitir a posição do Comando, e foi o que fez. Informou que estava presente para verificar se de fato o pessoal mantinha a decisão de não aceitar o novo Comandante e, em consequência, passar à disponibilidade.
A Assembleia foi correndo depressa, e as propostas para entrega das armas e a opção pela passagem à disponibilidade, foram aprovadas por maioria. Sem votos contra e com uma dúzia de abstenções, sendo que, cinco ou seis eram milicianos que estavam no final do seu serviço militar. A sessão terminou uma hora depois e, como era habitual, tudo foi arrumado no seu sítio com rigor e disciplina.

SBF

(Continua)
(Partes do escrito “25 de Novembro do ano do PREC” de Silvestre Félix)
(Baseado na realidade com situações e nomes ficcionados)

ATITUDE EGOÍSTA E DESAFIADORA

A atitude egoísta e desafiadora de Carlos César, face aos sacrifícios pedidos à generalidade dos portugueses, não pode, nem deve, ficar impune.

Eliminar parte de uma Lei aprovada na Assembleia da República (Orçamento do Estado), não pode vingar a coberto de qualquer poder regional, por muito digno e legítimo que seja.

O Presidente do Governo Regional dos Açores pode vir dar as explicações que entenda, mas, o que resulta da aplicação do chamado “regime compensatório” aprovado na região e beneficiando 3700 funcionários açorianos, é uma discriminação relativamente ao todo nacional.

Se do ponto de vista legal, as instituições da República não poderem travar esta “iluminada” ideia, pelo menos, arranjem maneira de, em 2011, cortarem nas verbas a transferir, o equivalente ao que agora vão gastar com o pagamento da “compensação”.

Do ponto de vista partidário, Sócrates, tão cioso da sua determinação, faça valer o seu poder (se ainda o tem) dentro do PS e, trate de puxar as “orelhas” ao seu correligionário açoriano.
(Imagem: Wikipédia)

FRANCISCO SÁ CARNEIRO

É comum ouvir dizer-se que, se Sá Carneiro não tivesse morrido naquela altura, hoje, não estaríamos neste poço sem fundo.
Podia ter acontecido e com estes pressupostos pode especular-se até onde a imaginação nos levar, mas é impossível saber se teria sido assim, e, os que o dizem, muitas vezes só pretendem justificar as suas fraquezas.
Francisco Sá Carneiro ficará na história do nosso País como Grande português. Quis o destino que a sua vida terrena fosse curta, mas, mesmo assim, deu muito a Portugal e aos portugueses.
Foi na política que se destacou, ainda antes de 25 de Abril de 1974, e estavam criadas todas as condições – quando aconteceu Camarate – para assumir por inteiro a sua parte na recuperação de Portugal em direção à democracia consolidada.
Foi corajoso, quando aceitou o convite de Marcelo Caetano e, com outros adeptos do sistema democrático, assumiu a chamada “Ala Liberal” da União Nacional na antiga Assembleia Nacional. Foi corajoso porque acreditou nas boas intenções do sucessor de Salazar, e também o foi ainda mais quando decidiu bater com a porta, em virtude das promessas “primaveris” do regime, não passarem afinal de um bem preparado embuste.
A sua postura depois de Abril, com a criação do antigo PPD e entrega de corpo e alma à vida política portuguesa, com todos os seus rasgos inconformistas, algumas vezes até contra a sua família partidária, arrastou multidões de apoiantes que nele confiaram e que o acompanharam até à queda do “cessna”, no final da pista no aeroporto de Lisboa, naquele dia 4 de Dezembro de 1980 quando, em mais uma ação da campanha presidencial de Soares Carneiro, se dirigia ao Porto.

Morreram todos os ocupantes, entre eles, o Ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa, dirigente do CDS.

As dúvidas que persistem quanto às causas do desastre, são uma grande mancha negra que paira sobre a polícia de investigação e o sistema judicial português. Finalmente, no primeiro semestre de 2011, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem vai pronunciar-se sobre o “caso Camarate”. No âmbito político, também as inúmeras Comissões de Inquérito Parlamentar nunca resolveram o que há trinta anos é reclamado: A verdade!

SBF

(Imagem: Sá Carneiro - Wikipédia)

ZIGUEZAGUEANDO

Tá um frio de rachar e a chuva…
A chuva começou a bater…
A bater na janela com muita força…
Força puxada a nortada!
Nortada desnorteada…
Chuva puxada…
E frio rachado…
Ziguezagueando pela chuva fria no desnorte…
É a vida
!

SIC DIVIDIDA E A ÚLTIMA CONTRATAÇÃO

Mais estrada menos estrada e, se for auto-estrada, então ainda melhor. A oposição protesta porque já temos que chegue, mas, quem sabe é quem “lhas” paga!

A última com estas características é entre Queluz de Baixo e Carnaxide! Foi inaugurada com um grande espalhafato no sentido Carnaxide – Queluz de Baixo em pleno Verão e, depois, mais devagar mas a passos decididos, o sentido inverso veio a confirmar eficácia na manobra. A contribuir para o sucesso da via está o fato de não ter portagem. Se o pessoal utente das ex-SCUD sabem, ainda vêm por aí abaixo a reivindicar tratamento igual.

Os utilizadores estão a aumentar todos os dias. São produtores, guionistas e, o mais arrojado até agora, está prestes a entrar em cena, mesmo que se arrisque a representar sozinho. Consta que a comissão de receção não é só de boas vindas. A maioria dos elementos, esperarão firme, mas é para lhe atirar tomates e ovos pobres ou qualquer outra substância bem degradada ou degradante.

ALIANÇA IBÉRICA

A possibilidade de Portugal e Espanha realizarem o campeonato do mundo de futebol em 2018, não era só importante por razões economicistas e pelo desenvolvimento do desporto em geral e do futebol em particular, mas, e para mim principalmente, para o impulso que este projeto comum podia dar a outros que tivessem na base a defesa de interesses dos dois países ibéricos, no âmbito da Europa e do resto do mundo.

Foi pena, mas tenho esperança que o pioneirismo de Gilberto Madail e Ángel Villar em se lançarem nesta luta, seja exemplo para que outras vertentes das duas sociedades como a desportiva, a política, a empresarial ou a social que, por sua vez, se subdividem em tantas outras áreas, capitalizem tudo o que nos une e, por conveniência de todos, utilizem de fato, os méritos da “Aliança Ibérica”.

SBF

1º DE DEZEMBRO E A JANGADA

Hoje, dia 1 de Dezembro, comemora-se a restauração da Independência de Portugal, face a Espanha, neste dia, em 1640.

É a data mais representativa da ligação existente, desde sempre, entre os dois Países, mas, por outro lado, do destino secular de vivermos de costas voltadas até há bem pouco tempo.

O dia 1º de Dezembro é hoje considerado o feriado mais importante da causa monárquica portuguesa. Em 1640, neste dia, o Duque de Bragança torna-se Rei como D. João IV e, os Bragança, manter-se-iam no trono até à implantação da República em 5 de Outubro de 1910.

Em Portugal existem inúmeras Associações e Clubes que adotaram a designação de 1º de Dezembro. Aqui, bem perto de mim, existem a Sociedade União 1º de Dezembro de São Pedro de Penaferrim, em Sintra e, também no mesmo Concelho, a Sociedade 1º de Dezembro em Rio de Mouro.

Os que, convictamente, comemoram o 1º de Dezembro, não gostarão da ideia da “Jangada de Pedra” de José Saramago mas, para o bem e para o mal, nos tempos que correm, Portugal e Espanha estão mesmo barco!

SBF

O PODER NA EUROPA E O TRATADO DE LISBOA

Há um ano, exatamente a 1 de Dezembro de 2009, a circunstância ainda tinha pompa para assinalar, junto à Torre de Belém, a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, assinado dois anos antes, bem perto, no Mosteiro dos Jerónimos.
Este jovem (há um ano) tratado, iria proporcionar um funcionamento célere e condizente com as exigências de uma Europa forte e desenvolvida. Já na altura me parecia que criar o Presidente do Conselho Europeu e a Autoridade para a Política Externa, autónomos da Comissão já existente, provocaria mais confusão ainda, não reforçava o poder de coordenar e responder, na instituição União Europeia, nem resolvia o velho problema de: Para quem é que o Presidente dos USA telefona quando quiser falar com a Europa?
Com a chegada de 2010, a crise financeira sobe degraus aos três de cada vez, Bruxelas não tem meios nem poder para resolver nada e ninguém lhes ligam nenhuma. Os mercados só reagem aos recados de Berlim, que nem sempre têm sido bons para a UNIÃO e estão atentos aos encontros de Sarkosy com Angel Merckel que, acabam por concluir, estar o Tratado de Lisboa necessitado de ser revisto no pormenor de controlo financeiro.
O Jovem Tratado está hoje já velho, como tudo o que se passa na Europa.

Os juros das dívidas soberanas estão hoje em forte queda.
O Presidente do Banco Central Europeu, Tricher, afirmou ontem que o BCE ia começar a comprar títulos de tesouro de alguns países e, confirma-se, hoje já está no mercado. Aí está o efeito.

Foi preciso que as campainhas (juros a subir em flecha) começassem a soar também em relação às “soberanas” da Espanha, Bélgica, Itália e até, (imagine-se) da França, para que Tricher decidisse fazer o que, se calhar, já devia ter feito há muito tempo.

UNIÃO EUROPEIA DECADENTE

As eleições da Catalunha, no passado Domingo, vieram reavivar a questão dos “nacionalismos no espaço europeu e, muito particularmente, em Espanha. A vitória da “Convergência e União(centro-direita) de Artur Mas foi esmagadora e, juntamente com a situação não resolvida da Flandres, volta a colocar o tema na ordem do dia.
Esta é uma questão, entre muitas outras, que os atuais dirigentes da União Europeia não estão a resolver. A cidadania europeia está muito mais distante do que estava há dez ou quinze anos atrás. A maioria dos que estão em Bruxelas, agem em perfeita sintonia com o diretório (França e Alemanha) onde, o que só importa, são os interesses egoístas dessa Europa que, de fato, já deixou de ser a nossa.
Esta Segunda e Terça-Feira, decorreu em Tripoli a Cimeira UE-África, instituição recuperada por Portugal em 2007,durante a presidência portuguesa. Também aqui se viu o pouco interesse que a União Europeia tem demonstrado pelo desenvolvimento das relações e estabelecimento de parcerias com o continente africano, que, não se limite, aos negócios bilaterais entre estados.

O polémico líder líbio, Muammar Kadhafi, que não costuma ter “papas na língua”, disse ontem que:

As parcerias económicas combinadas entre os dois continentes na cimeira de Lisboa em 2007, não levaram a nada, acabando por não passarem do papel.”

E ainda disse mais:

“Se os europeus não cooperarem com o continente africano, a África vai virar-se para a América Latina, Rússia e China.”

A União Europeia não avança de nenhuma maneira. São só planos de austeridade, controlo de deficits dos periféricos e reforço do poder do diretório. Quanto a desenvolvimento e investimento integrado, implementação de políticas comuns de recuperação do emprego, nada!
“A esperança é a última a morrer”, mas, desta maneira, o fim, nem nos vai dar tempo de ter esperança!
SBF

A COROA PORTUGUESA EMBARCA PARA O BRASIL

O que aconteceu a 29 de Novembro de 1807, faz hoje 203 anos, iria condicionar a vida portuguesa pelo século XX fora e, muito provavelmente, alguns dos problemas nos nossos dias, já no século XXI, ainda serão herança desse esvaziar do tesouro nacional.
Há já mais de meio século que tinha acabado o efémero período de faustosa riqueza que o ouro do Brasil tinha proporcionado aos poderosos deste País, como é exemplo o Real Convento de Mafra mandado construir por D. João V. Em 1807, 52 anos depois do terrível acontecimento nacional que foi o terramoto de 1755, Portugal vivia num limbo pobretanas em que só o edificado e as aparências douradas da coroa, destoavam da miséria abundante que se espalhava pelas cidades e pela ruralidade.
Até este dia ventoso de Novembro, o poder era exercido no meio dos disparates proferidos por uma Rainha louca, D. Maria I, por um Príncipe Regente que viria a ser D. João VI, a Consorte D. Carlota Joaquina que, diziam as más (e boas) línguas, encornava o marido a torto e a direito, e, fora do âmbito familiar, pelo domínio militar Inglês muito reforçado pela fúria conquistadora de Napoleão Bonaparte.
O Imperador francês exigia que Portugal encerrasse os portos aos ingleses, D. João dizia “nim” conseguindo enganar durante algum tempo Napoleão, e, no âmbito da aliança Anglo-Portuguesa, ou a seu pretexto, uma armada Inglesa se instalou ao longo da costa e, em Terra, muita infantaria e artilharia se aquartelou.
Foi com o Reino nesta situação e sem ceder às pretensões francesas, que o Imperador, depois de ter posto no “bolso” a grande Espanha, se decidiu pela invasão do minúsculo território de Portugal. Mandou 30 mil homens comandados por Junot, e, na manhã de 29 de Novembro, estava a duas léguas de Lisboa.

«As forças de Junot aproximavam-se de fato muito rapidamente da capital, mas continuava a soprar um vento adverso que mantinha a frota ancorada. Os navios portugueses, agora perigosamente sobrelotados, balançavam para um lado e para o outro. Um medo indizível espalhava-se pelo convés das embarcações – o da possibilidade muito real de serem apanhados no porto pelos franceses.»(1)

Mas não, isso não aconteceu e…

«Na manhã de 29 de Novembro o vento mudou. Às sete da manhã foi dada ordem para levantar âncora. Parara de chover e, com céu limpo, os navios, balanceando, desceram o Tejo até à barra.» (2)

E partiram Atlântico abaixo em direção ao Brasil, donde só voltariam 14 anos depois.

Para trás ficou um País abandonado, despojado das suas riquezas, descapitalizado e entregue à sua sorte, neste caso, aos franceses e ingleses e, no cais e nas suas proximidades, um rasto de destroços e restos da bagagem real como se de lixeira se tratasse. A biblioteca real da Ajuda composta por sessenta mil volumes ficou espalhada pela lama, caixotes e caixotes de documentos, mapas e outros livros, alguns deles, edições únicas e datados da época das descobertas, coches luxuosos vazios mas alguns ainda cheios de recheios retirados dos palácios.
Claro que, a maior parte das riquezas, incluindo o “Tesouro Real”, com pelo menos metade da moeda em circulação e todo o espólio de diamantes e ouro, não ficaram para trás e viajaram até ao Brasil.

Desde este dia, Portugal não voltou a recompor-se mas isso é outra história.

SBF

(Notas: (1) e (2) Extraído do livro “Império à Deriva” de Patrick Wilchen. Edição da “Civilização”)
(Gravura: Partida da Frota Real. – Wikipédia)

BANCO ALIMENTAR

O “Banco Alimentar Contra a Fome” é uma instituição credível e os portugueses correspondem sempre com confiança à sua solicitação.
Reparei, ontem e também hoje, no super-mercado onde costume ir, que são muito poucos os clientes que, depois da passagem pela caixa, não deixam o seu contributo com os voluntários do “Banco Alimentar”.
Tenho a certeza que muitas destas pessoas, também estarão a sentir as suas dificuldades mas sabem que outras estão muito pior e, mesmo pouco, não deixam aumentar esta cadeira de solidariedade que aumenta sempre, apesar da crise instalada.

Durante o dia de ontem, os portugueses deram mais cem toneladas de alimentos do que no dia equivalente do ano passado.

O “Banco Alimentar” tem vários armazéns espalhados pelo País, fornecendo outras 1800 instituições que, por sua vez, distribuem ajuda por quase 300 mil pessoas carenciadas.
Dá a cara (e o trabalho) completamente voluntária pelo “Banco Alimentar”, Isabel Jonet.

ANO DO PREC – DEPOIS DE 25 DE NOVEMBRO, DIAS 26 E 27 (1ª PARTE)

Quando já estavam perto do quartel, João disse ao amigo para ir mais devagar na aproximação. No início da reta que dá acesso à Porta-de-Armas, aperceberam-se que havia muita gente no largo fronteiro ao portão….
O parou a alguma distância da confusão e o João saiu do carro despedindo-se do amigo com um abraço e dirigindo-se ao portão da Unidade…
Dentro do quartel, João correu para a camarata fardou-se num minuto e…
Quando saía da CCS, já vinha o seu amigo Cruz ao encontro dele que, em trinta segundos, fez o ponto da situação e lhe disse que estava a contar com ele para a brigada de ronda que tinha sido encarregado de constituir…
O Furriel Cruz, no decorrer da ronda, foi passando toda a informação que considerava essencial e, relativamente à situação no quartel, disse ao João que era pacífica mas, a gestão mista entre os do quadro pelo novo Comando e os Milicianos pelo Comando antigo, causava alguns constrangimentos que estavam a ser difíceis de ultrapassar….
O turno da ronda era até às 2h da madrugada de 26 de Novembro e, de volta ao quartel e com a papelada toda preenchida, o Cruz e o João já tinham à espera o Vilaça e o Mata para irem ter com o “Chefe”Albertino à cozinha. À espera deles lá estavam umas febras na brasa e vinho verde que o Vilaça todas as semanas trazia da terra, lá para os lados de Guimarães….
No meio das febras e do “trotil”, foram fazendo o ponto da situação sobre as ações desencadeadas pelo Regimento de Comandos nos quartéis que eles designavam de rebeldes….
Todos sabiam que, não aceitando o novo Comandante, a Unidade estava na mesma linha de ataque do Regimento de Comandos….
A Comissão já tinha combinado uma Assembleia para as cinco da tarde e, para evitar confrontos quando os "Comandos" chegassem à Unidade, iam propor a entrega de todas as armas que estivessem com Milicianos, nas respectivas arrecadações. Todos acharam bem e combinaram mobilizar toda a gente para concretizarem esta proposta da Comissão.

(Continua)
(Partes do texto “25 de Novembro do Ano do PREC” de Silvestre Félix)
(Baseado na realidade com nomes e situações ficcionadas)

PENÍNSULA DA COREIA

A fronteira marítima, entre a Coreia do Sul e a do Norte, traçada pelas Nações Unidas em 1953, nunca foi reconhecida pelas autoridades de Pyongyang. Para além de todo o resto, este fato, tem sido motivo para que as escaramuças se tenham sucedido ao longo destes 57 anos.

Independentemente das razões que cada parte reivindica, e de nenhuma delas justificar o uso da força, parece-me de manifesto descuido, ou provocação intentada, que os militares Sul-Coreanos e Americanos decidam, mais uma vez, efetuar exercícios navais no Mar Amarelo.

Esperemos que os “descuidos” não tenham um preço demasiado alto.

MÁRIO CESARINY


RUA 1º DE DEZEMBRO

À hora X, no Café Portugal
à mesa Z, é sempre a mesma cena:
uma toupeira ergue a mãozinha e acena…
Dois picapaus querelam, muito entusiasmados:
Que a dita dura dura que não dura a dita dita dura – dura desdita!
Um pássaro cantor diz que isto assim é pena
e um senhor avestruz engole ovos estrelados

Mário Cesariny, Nobilíssima Visão – 1959

Mário Cesariny teria hoje 87 anos. Morreu neste dia 26 de Novembro de 2006. Pintor e poeta, era considerado “O surrealista” português, e, fazendo jus ao título, em tudo o que opinava, quer fosse na arte, na história, na antologia ou simplesmente no seu dia-a-dia, era sempre polémico.
O seu trabalho, nas duas vertentes, é vasto mas sem retorno financeiro. Só a partir dos anos 80, quando é reeditada a sua obra poética, readquire o equilíbrio orçamental e, quando morre, consegue deixar em testamento um milhão de euros à Casa Pia. Ainda em vida, entregou graciosamente todo o seu espólio à “Fundação Cupertino de Miranda”.


SBF


(Imagem: Wikipédia)

ANO DO PREC – DIA 25 DE NOVEMBRO

…Era uma das poucas coisas boas que ali encontrava, o “Chefe” Cabo Albertino, e os seus petiscos. Aliás, o Albertino viria a ser um dos milicianos companheiro de viagem de João, na caixa duma “Berliere”, na madrugada de 26 para 27 de Novembro, que foram distribuir pelas residências dos que moravam perto, e pela Estação de Santa Apolónia, para os que iam de comboio para casa com o “passaporte” na mão. …
…Para o João não havia dúvida. Embora, do ponto de vista político, estivesse na área da chamada esquerda revolucionária, ou melhor, do PS para a esquerda, e, neste caso, contrário ao “Grupo dos Nove”, para ele o mais importante era a hipótese de se ver livre da tropa, portanto, a sua escolha, como para a quase totalidade dos milicianos, era a disponibilidade, passagem à “peluda” como se dizia então. …
…Há uns dias que a Comissão de Unidade tinha elaborado uma escala de saídas do quartel, para se saber exatamente o que se estava a passar no País real. Começava a haver pouca confiança na informação que chegava via televisão e rádio, e, dentro do quartel, era a única que havia. …
…Tinha chegado o dia de João sair para o exterior. No dia seguinte, 25 de Novembro, 3ª Feira, ano do PREC, ainda não eram 9h quando transpôs a “Porta-de-Armas” sob o olhar protetor do Primeiro-Sargento Alves. Uma dúzia de passos andados já na rua, olhou para trás, contemplou aquele grande portão verde e, decidido, encaminhou-se para a estação …
…Pouco depois de João ter saído do quartel como estava previsto, ouve-se o toque para a formatura geral. …
…de frente para a formatura na parada…
…Botou discurso o novo Comandante mais uma vez, dizendo que lamentava a decisão da Assembleia, que ainda havia tempo para pensarem melhor mas, se for realmente essa a vontade, tudo fará para que a transição corra sem problemas. Quanto ao regresso do antigo Comandante, não é negociável e está fora de questão qualquer cedência nesse sentido. …
João Marques passou todo o dia em Lisboa, a maior parte com colegas de trabalho e, ao fim do dia, rumou a casa onde aproveitaria para matar saudades da família e dos amigos e preparar roupa, porque a prevenção continuava e não sabia quando poderia voltar a casa. Tinha consigo três ou quatro jornais e toda a informação atualizada que conseguiu obter. …
…A televisão, a um dos cantos da sala, transmitia notícias e, naquela altura, falava o Capitão do MFA, Duran Clemente e era nisso que João estava interessado.
De repente, o Capitão, interrompe o que estava a dizer, começa a olhar para cima e para os lados, a imagem desaparece e é substituída pela escuridão completa do ecrã. Momentos depois, volta a surgir som e imagem mas, o que o João via, não era o Capitão Clemente mas sim, o exterior dos estúdios da RTP do Porto no Monte da Virgem. Uma voz off anuncia de seguida uma comunicação de Sua Exa o Presidente da República: O General Costa Gomes anunciava o decreto da declaração de “Estado de Sítio” com recolher obrigatório durante a noite. …
…os pensamentos de João sucediam-se… e o que mais o atormentava era a ideia de que teria havido um golpe militar de direita e tudo ia voltar para trás: A guerra, a PIDE, a censura e a tortura iam voltar… tudo se tinha perdido. E foi neste turbilhão, sem fazer ideia do que estava a acontecer na sua Unidade e dos riscos que corria, que, voando, chegou ao café onde costumavam parar os amigos. O Zé Silva, que tinha acabado de ver na televisão o mesmo e como se estivesse à espera dele, quase sem perguntas, meteu-o no seu carro e acelerou até ao quartel. …
…durante o trajeto, os dois amigos foram conversando mas a ansiedade de João sobreponha-se a tudo… o que me irá acontecer quando lá chegar? Vão prender-me com certeza! Pensava o João em voz alta.

SBF

(Partes do escrito “25 de Novembro do Ano do PREC” de Silvestre Félix)
(Baseado na realidade, com nomes e situações ficcionadas)

PORQUE NÃO SE CALAM?

PORQUE NÃO SE CALAM? São praticamente os mesmos, que há menos de dois meses, bradavam “aos céus” por medidas mais restritivas, fortes e ...