ANO DO PREC – DEPOIS DO 25 DE NOVEMBRO - DIAS 26 E 27 - 4ª PARTE

Naquele dia 26 de Novembro de 1975, a partir das dez e meia, onze da noite, o pessoal começou a recolher às companhias e, a maior parte, foi mesmo para a cama. João e os amigos, com o quartel de prevenção mas sem nada para fazer, foram ficando ainda na rua, do lado da parada e debaixo dos alpendres, falando e fumando, a ver se o sono vinha.
Faltava mais ou menos um quarto para a meia-noite, quando se começou a ouvir um barulho de motores, que mais pareciam tratores, aproximando-se cada vez mais. Instantes depois, dois Sargentos vêm a correr do lado da Porta-de-Armas gritando: São os Comandos, são os Comandos! Toda a gente foge e um deles, deita-se debaixo de uma Mercedes e fica em posição de espera. De repente, abre-se o portão do Quartel e entra uma “Chaimite”. Depois de parar, das suas "entranhas", saltam vultos negros de arma em punho e gorros enfiados pela cabeça que, em corrida, se dirigem às respectivas companhias. Pelo portão da Unidade entram mais viaturas, João e os amigos ficam desorientados e não entendem o que eles pretendem nem o que está a acontecer. Os invasores começam então numa berraria de doidos usando um vocabulário muito baixo, mesmo ofensivo: Toda a gente a formar na parada…, rápido seus cabrões, seus filhinhos da mamã, rápido… rápido, senão se despacham começam a levar nesse cu que não é brincadeira seus filhos da puta. Bem, todo o “calão” do pior que se possa imaginar.
Das companhias, saía o pessoal já deitado ou em vias disso, alguns de pijama ou mesmo um ou outro em cuecas. Os “comandos”, não davam tempo para os homens se vestirem e na forma como estavam, eram literalmente empurrados para a rua e obrigados a formar na parada. Os que já estavam na rua, foram-se aproximando do centro da parada e tomando lugar na formatura.
Em pouco mais de cinco minutos, aqueles “zelosos” comandos, conseguiram alinhar na parada, fardados, em pijama ou em cuecas, cerca de trezentos militares completamente desarmados. Tomou a palavra o comandante da força invasora só para achincalhar ainda mais os rapazes, e não era preciso. Já se sentiam bastante humilhados e, se já estava tudo decidido quanto ao futuro, para quê continuarem a ofender os filhos de outras Mães? João só ouviu as primeiras e as últimas palavras. Observou a reação muda de alguns dos seus colegas e, suspirou de alívio quanto o tipo acabou o discurso e deu indicação para nos dirigirmos às respectivas secretarias.
Entretanto passava da meia-noite, já era 27 de Novembro de 1975. Na secretaria da CCS, toda iluminada, já estava o 1º Sargento Pereira a tratar da papelada, que, neste caso, era um passaporte de dez dias para cada um.

(Continua)
(Partes do escrito “25 de Novembro do ano do PREC” de Silvestre Félix)
(Baseado na realidade com situações e nomes ficcionados)

SBF

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