MIRA – SINTRA


Lembro-me da construção dos edifícios que viriam a constituir o bairro de Mira – Sintra. Estávamos lá pelo início da década de setenta do século passado. Este bairro era notícia, considerando a dimensão e importância dos acontecimentos que mereciam ser referidos pelos órgãos de comunicação à época. Nessa altura, os bairros de lata fervilhavam em volta das principais cidades do nosso litoral, principalmente na cintura de Lisboa e, com a chegada constante de populações vindas do interior, levaria ainda muitos anos até que as barracas começassem a diminuir.

A construção de raiz, deste bairro, para alojamento de famílias com baixo rendimento, era novidade em todos os aspectos; Pelo tipo de construção e a quem se destinava. Daí, o ser notícia. Eu, que fazia de comboio, a minha ida e volta diária a Lisboa onde trabalhava, via os edifícios a crescer todos os dias.

Mira – Sintra, ainda antes de se tornar uma das freguesias novas do concelho de Sintra, foi adquirindo vida própria, tendo criado várias estruturas sociais, recreativas e culturais. Nas realizações a nível regional, sempre está presente qualquer instituição de Mira – Sintra.

Passados estes trinta, quase quarenta anos, a, agora, Freguesia de Mira – Sintra, volta a ser notícia nacional, também por uma boa razão. A Junta de Freguesia vai avançar para um ambicioso projecto de autonomia energética. Com a instalação de painéis solares nos telhados dos seus edifícios, querem; primeiro, atingir a auto-suficiência, segundo, quando aí chegarem, passar à venda do excedente de energia produzida, à rede de distribuição.

É com acções concretas no terreno como esta, que se protege o planeta.

É com esta política que se protege e defende os interesses das populações.

Não sei, nem me interessa saber, de que cor política são os membros do executivo desta Junta de Freguesia.

SBF

PROVEDOR DA JUSTIÇA



A culpa é dos dois maiores partidos, PS e PSD. É uma vergonha que após mais uma votação na Assembleia da República, continuemos sem provedor da Justiça eleito. Escusam de se culpar mutuamente porque, se alguém ainda tinha dúvidas, esta é a prova. Para eles, os interesses partidários estão à frente dos do País e do seu povo.

Todos sabemos que existem decisões estruturais fundamentais para o futuro do País, que necessitam do empenhamento imparcial destes dois partidos, para serem concretizadas e, por via disso, tirarem definitivamente o País do estado de hibernação em que se encontra.

Partindo deste desentendimento, em que não conseguem ou não querem avançar com um nome em comum, como é que o povo português pode continuar a acreditar nos dirigentes actuais destes partidos?

SBF

PASSEIO TURÍSTICO

HFF: Está lá? É o senhor SBF?
SBF: Sim, sou eu!
HFF: Muito boa tarde.
SBF: Boa tarde!
HFF: É para lhe dizer que acabamos de marcar a repetição da sua colonoscopia para o próximo dia … às 16 horas. Pode ser?
SBF: Sim, pode! Às 16 h? Então para a próxima semana vou aí ao guiché confirmar e levantar as instruções para a preparação. Estou a falar com?
HFF: Sou a ……., senhor SBF não se esqueça das análises.
SBF: Ok, na 2ª F vou já fazê-las. Muito obrigado, boa tarde!
HFF: Adeus, boa tarde e até para a semana!

Pólipos para cá, pólipos para lá.

Lá vamos fazer mais um passeio turístico às profundezas do “intestanóide” e visitar os primos “pólipos”.

Com tanta prática, já consigo umas fotos dignas de exposição “tipo CCB”.

Em tempo contado em dias, faltam mais de oito, mas já começo a sentir aquele frio na barriga, e a dor, e a depressão vem.

E a campanha eleitoral? Qual campanha? E eles continuam a falar das mesmas coisas, e eles continuam a falar de nada, e eles continuam a fazer pose de importantes quando botam discurso, e eles continuam a olhar, quando conseguem, para o umbigo.

SBF

JUSTIÇA

Os noticiários abrem com notícias, ou melhor, repetição de notícias de problemas de justiça ou, na maior parte das vezes, de injustiça.

Neste momento, há três ou quatro processos com tal empenho mediático, que dão para sustentar a informação regular das televisões, rádios e alguns jornais e ainda para a realização de programas especiais.

O engraçado disto tudo, é que o miolo destas intervenções “informativas”, quase nunca acrescenta novidades ao que já se sabe e já se disse. Para além de que, está sempre tudo em segredo de justiça, pelo que as intervenções dos jornalistas, comentadores, advogados e outros convidados, são quase sempre especulativas.

Quando, numa ou outra vez, o repórter chega à fala com algum protagonista do processo, este, se é juiz ou procurador, não pode falar do assunto em concreto, se é arguido ou queixoso, também não pode falar porque está obrigado ao segredo de justiça.

O cidadão está cada vez menos crente nesta justiça. A situação encaminha-nos para esta descrença.

SBF

D. AFONSO IV (O BRAVO)



Há exactamente 653 de tempo contado em anos, em 28 de Maio de 1357, na cidade de Lisboa, morria o sétimo rei de Portugal e dos Algarves, D. Afonso IV cognominado “O Bravo”.

De reinado bastante longo, trinta e dois de tempo contado em anos, entre 1325 e 1357, de poucas linhas seria composta a biografia de “O Bravo”, não fora ter sido filho de D. Dinis e de Isabel de Aragão, conhecida para a história por Rainha Santa Isabel porque, pelas beiras da Quinta das Lágrimas em Coimbra, estando certo dia caminhando, com o colo cheio de pães para os pobres, e, em contra-caminho, à vista, El-Rei D. Dinis seu marido, que não ia lá muito à “bola” com a caridade da mulher Rainha, assistiu-se mais ou menos a este diálogo, em cima do embaraço natural da Santa:

D. Dinis: Que levais no teu regaço senhora?
Rainha Santa Isabel: (Abrindo o regaço e mostrando o seu conteúdo) São rosas Senhor.
(E diz a história, que estavam lá rosas onde antes estavam pães e as rosas viraram milagre e a Rainha virou Santa.)

Pegando no fio da história, e esclarecida a ascendência, passamos à descendência do sétimo que era pai de D. Pedro I, que por sua vez, também deve mais a sua notoriedade ao facto de ter protagonizado o amante fervoroso de Inês de Castro, do que pelos feitos em prol do seu reino.

De biografias falando, e eu li mais do que uma, e também histórias da História desta época, a de D. Afonso IV, ocupa-se, na maioria das suas linhas, com as muito azedas zangas com o seu filho e pretendente ao trono, D. Pedro. Entre muitas intrigas e mesquinhices, perseguiu o filho e D. Inês de Castro, de tal forma que mandou assassiná-la no seu retiro em Coimbra. Se diz também, em muitos manuais da história, que o rei não conseguiu sarar o remorso, e por isso, dois em anos contados depois, morreu sem descanso e sem paz.

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito;

(Luís de Camões, Os Lusíadas – 1572)

Bom, mas estou a escrever sobre o sétimo, porque foi neste dia que ele morreu e é essa a efeméride.

O cognome de “O Bravo” vem-lhe da sua bravura no comando das suas tropas, indo sempre para a frente de combate incitando com o seu exemplo. Do ponto de vista económico deu um grande impulso à marinha, criando a primeira marinha mercante portuguesa e as primeiras armadas que se aventuraram, na descoberta, pela costa de África. Foi no seu reinado que as Canárias foram descobertas.

O seu túmulo está na Sé de Lisboa.

SBF

ROSÁRIO DE MARIA II



Daquela janela do terceiro andar via Maria pelas verdes águas furtadas às telhas cor de barro num cúmplice olhar. Pela direita, ao longo dos carris dos amarelos, a do alecrim acabava num largo de Camões e Chiado com a ilusão de óptica de afunilamento.

E a Maria entre o recife dos bábás e a brasileira dos natas únicos do cais do sodré, e lá caminhávamos, lado a lado, pela 24 de Julho até à junqueira em estudo da Dona Maria Amália. Mais tarde, ao contrário, com o poente atrás, lá regressávamos muito devagar, o mais devagar possível, com toques leves na mão leve, e os lábios rosados de rosário menina. Eu, também menino, via tudo na frente cor-de-rosa, sempre daquela janela do terceiro andar e o Tejo que levava de Alcântara e de Santos os soldados p’ra guerra. Eu, ainda menino, daquela janela do terceiro andar, sentia o tempo a correr, sem nunca saber se os anos iam passar depressa demais. E a rosário ficava lá nas verdes águas furtadas, e os lenços brancos das mães, das avós, das noivas, das mulheres, acenavam como se levassem com eles a saudade e a promessa de voltarem.

E eu, ainda menino, via a rosário de Maria e a paixão subia, subia, e sentia o tempo a correr e não sabia quando a guerra ia acabar.

SBF
(Foto: Av 24 de Julho e o mercado da Ribeira è direita - Google)

BPN (Telenovela das oito)

Degradante aquele débito de páginas e páginas escritas que o homem trazia da sua cela de prisão.

Ouvindo-o, até parece que é vítima de todo o mal que há no mundo, e que é inocente até aos “sete costados”.

Não adiantou nada de essencial. Só tentou lançar os outros também para o meio da fogueira, tipo: Se eu for, vocês irão comigo! Pode até acontecer que outros também sejam constituídos arguidos, mas não me parece que seja por causa deste depoimento.

SBF

PRATELEIRA DE LIVROS



CAL
de
José Luís Peixoto



É o primeiro livro que li deste jovem escritor e gostei.

Este, é uma narrativa de maravilhosos contos autobiográficos e duma peça de teatro. O palco, é a sua terra de nascimento e criação, com uma ou outra excepção.

A forma genial como conta as suas histórias, transporta-nos para uma pequena vila alentejana no período pós-revolução (finais de 70, princípios de 80). Embora nessa época, e por maioria de razão no Alentejo, fosse quase impossível não abordar a questão política, o JLP consegue fazê-lo e ao mesmo tempo, capitalizar o valor e o sentimento humano das suas personagens. O envelhecimento dos vizinhos e familiares, com quem sempre conviveu desde a sua infância, e a consequente chegada à “zona” solitária, ante – câmara da morte, é transmitida de maneira simples e natural.

O José Luís Peixoto, nasceu no ano da revolução em Ponte de Sor e licenciou-se na Universidade Nova de Lisboa. Em 2001, com 27 anos, recebeu o Prémio Literário José Saramago com o romance Nenhum Olhar. Os seus livros estão publicados em muitos países pelo mundo fora e nos mais variados idiomas.

SBF

AUTOESTIMA EM ALTA

Estes comentadores, analistas, jornalistas e políticos na oposição, empurram-nos tão para baixo que, quando acontece alguma coisa de bom, ou, nem sequer nos apercebemos porque a notícia passa pequenina num canto do ecran da televisão e, na altura, o jornalista tem um ataque de tosse, ou, demoramos tanto tempo a reagir, que quando ficamos conscientes da coisa, o tempo de entusiasmo já passou.

Boas notícias

Ontem, no festival de Cannes, a curta-metragem “arena” do jovem realizador português João Salaviza, recebeu a Palma de Ouro do certame. É a primeira vez que tal acontece com o cinema português.

Hoje, os jovens tenistas: Michelle Brito e Rui Machado ganharam e passaram para a eliminatória seguinte do torneio de ténis de Roland Garros em Paris. No sábado o Frederico Gil não conseguiu ganhar mas subiu para o 66º lugar do ATP. Para Portugueses, todas as situações são inéditas.

Noutra onda, também vimos e ouvimos hoje nos noticiários, o lançamento da distribuição a nível nacional do “cabo fibra - óptica”. Disse o maior da PT, que este avanço tecnológico é o primeiro a nível europeu e o terceiro a nível mundial.

SBF

BABILÓNIA NA ANTENA 1 (CARMINHO)



No “Hotel Babilónia” do último sábado na Antena 1, o Pedro Rolo Duarte e o João Gobern convidaram e ouviram com entusiasmo a jovem fadista, Carminho.

Eu digo, ouviram, porque foi literalmente isso que aconteceu. A Carminho tem 24 anos e uma lição de vida para qualquer pessoa.

Com certeza que, como me aconteceu a mim, também a generalidade dos ouvintes ficaram colados ao rádio ouvindo a linha de prioridades que esta jovem deu à sua vida.

Quando toda a gente lhe perguntava insistentemente, quando é que finalmente gravava o primeiro disco, a Carminho decidiu ir viajar pelo mundo durante um ano (2007), fazendo voluntariado pelos vários países por onde passou. É claro que já tinha alguma experiência a nível nacional, mas, numa altura em que tinha o sucesso a seus pés, percebeu, e bem, que lhe faltava muita coisa para iniciar uma carreira de espírito aberto e com o conforto de saber o seu lugar nesta nossa sociedade.

Sugiro que oiçam a entrevista via “sítio” da Antena 1, e visitem o blogue que a Carminho fez durante o ano que esteve por esse mundo fora (soldadosdocozido.blogspot.com).

Como fadista, a Carminho já é uma das grandes e, o desejado CD, aí está a partir do dia 1 de Junho.

Parabéns Carminho pela mulher que és!

SBF
(Foto: Guitarra Portuguesa - Blog - goatentejo)

LINCE IBÉRICO



Li no DN que até final do ano, irão ser colocados no Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, perto de Silves, no Algarve, 16 jovens Linces, em cercados especialmente construídos, numa área total de 36 hectares.

Este centro faz parte da rede Ibérica de reprodução do lince em cativeiro, para reintrodução da espécie na natureza.

Este animal estava praticamente extinto e, não fosse a criação destes centos de reprodução, não demoraria muitos anos até desaparecer de vez.

A reprodução na natureza é muito selectiva, nascem entre 1 a 4 crias, em média 2, e, mesmo assim, destas duas, na melhor das hipóteses, só uma é que vinga. A juntar a este facto natural, a considerar a atitude humana que agrava a sua sobrevivência.

Nestes centros (existem 5 em Espanha e agora 1 em Portugal), a reprodução tem mais sucesso, sendo de acreditar que dentro de uma dúzia de anos, o lince possa estar salvo por agora, e comece a ser visto com alguma facilidade nas nossas serras.

Tal como se fez com o lobo, é importante que as nossas populações façam as pazes com este felino. Devemos habituar as nossas crianças a gostar da natureza e, neste caso, o lince, que é um lindo animal, faz parte dela.

SBF
(Foto: Wikipédia)

ELES FALAM E A CRISE NÃO PASSA...



Será que já não lhe chega o seu grupo de casa sede na Maia e casa morada na Foz com vista para o “queijo” que é castelo? De cautelas e bom senso não tem de ensinar a CT da autoeuropa. Ora, o senhor Azevedo que fique com os seus sábados e domingos e não meta a foice em seara alheia.

Na sua seara tem metido o M Alegre com muita inteligência e bom senso. Temos candidato a Belém?

Neste caso não é para Belém mas é para Alvalade ou para Academia de Alcochete ou para o Alvaláxia XXI. Bom, seja lá para onde for, o que interessa é que a lufada de ar fresco finalmente chegou com o José Eduardo Bettencourt a confirmar a candidatura à presidência do Sporting.

De fresco não tem nada, antes pelo contrário, e o “folhetim” do BPN continua. O homem agora diz que (diz) tudo que ainda não foi dito, e até que é; “uma espécie de inocente”…

Quem agora diz tudo também, é o cabeça de lista do PSD ao PE. Onde e como está a MFL? Só o Rangel se vê e se ouve! Não te cuides não MFL, que vais ver a volta que levas.

Na conversa das europeias para o Vital, nem com “ameaças de agressões” todas as semanas, lá vai. Mas que falta de vitalidade.

Continuando pelo mesmo verbo dizer, quem diz tudo e mais alguma coisa e até demais, é o bastonário da AO. Não vou à bola com ele, mas que ele diz o que mais ninguém tem coragem de dizer e sem virar a cara, lá isso é verdade.

Também é verdade que o ministro M Lino disse que o IC30+IC16=A16 vai estar pronto em Setembro e não é por causa das eleições… Não! Mas quem é que ia pensar uma coisa dessas.

SBF

MAIO, 23

Algumas acácias já em flor, cores múltiplas filtrando os violeta do sol tropical nas bordas do Índico oceano e em cima da calma baía desde a barra do Incomati pela areia da Macaneta até ao carvão da Matola. Depois do nascimento do nazareno, que veneramos como Cristo crucificado no monte das oliveiras lá p’ra terra – santa do médio - oriente, passaram em tempo contado em anos, mil novecentos e oitenta e três a considerar também o calendário do Gregório (papa XIII, acho eu) no dia vinte e três e o mês de Maio das acácias coloridas desde o rio Maputo até ao asfalto do mesmo nome.

Ansiedade e preocupação pela madrugada fora, e a Mãe subiu os oito andares, e a Mãe desceu os oito andares de pé de escada, e a máquina que eleva o corpo, a alma, os sonhos, a felicidade, as compras da cooperativa… deixou o esforço para outro dia, e a Mãe com toda a vontade e força do mundo desceu cada degrau com alegria dobrada. Nem o médico Cubano combinado se descobria para a função de natividade ajudada, e a maternidade da cidade a acolher o meu tesouro que quase estava encontrado.

Menino ou menina?

Naquela terra vermelha, amada pelos de lá e abençoada pelos de cá, ela nasceu com a manhã. E o Bruno e a Isabel e eu lhe pegamos na primeira claridade da vida.

Parabéns Minha Filha!

SBF

MARINHO PINTO VS MM GUEDES


Finalmente alguém conseguiu dizer em directo à MM Guedes algumas verdades que ela precisava ouvir.

Da TVI, quando posso, vejo uma das melhores séries da televisão portuguesa – O Equador, e pouco mais.

Há já bastante tempo que me recuso a ver noticiário neste canal. A principal responsável por esta opção, é a prestação horrível desta senhora desde o tempo em que apresentava o “jornal da noite”, todos ou quase todos os dias da semana. Esta nova versão de 6ª feira nunca vi, mas pelo que se apura, continua na mesma onda, para muito pior.
Ora, hoje encontrou O Marinho Pinto que lhe disse das boas. Consegui ver o vídeo e realmente o homem não tem papas na língua e coragem não lhe falta. Ela nem conseguia articular palavra no meio do paleio do Bastonário da AO. Não sei se ele tem razão, no diferendo com os conselhos regionais, mas aqui, o que eu gostei, foi o ter conseguido desmascarar, do ponto de vista funcional, a pessoa que tinha à frente.

SBF
(Foto: Wikipédia - A marreta é um martelo grande, ou, também se diz, de pessoa estupida)

PÓLIPOS

No calor do seu ninho quentinho e resguardado, feito de tripa – mucosa de animal homem/mulher, neste tempo de banalidades formalmente repetidas sempre pelos mesmos protagonistas, diz um “pólipo” para o outro “pólipo”:

Primeiro pólipo: Ai mano! Viste o espectáculo daquela luz na ponta da sonda endoscópica?

Segundo pólipo: Vi mano. É um espectáculo, só que da próxima vez também deve vir a “tesoura” e… lá vamos nós.

Primeiro pólipo: O quê, a “tesoura”? E não nos podemos esconder? Não podemos resistir ao “corte”?

Segundo pólipo: Se vierem depressa não podemos fazer nada. Agora, se nos deixarem fortalecer durante mais uns tempos, já vamos ter condições para aguentar o ataque.

Primeiro pólipo: Então, vamos convocar os “manos” todos para nos unirmos e lutarmos contra a “tesoura”.

Neste tempo em que discursam, e desmentem, e repetem, e se afirmam com a única verdade, e jogam com as palavras de vento em rajada forte, para que o compromisso, em tempo “santificado”, rapidamente passe à história, e para que a culpa seja do outro, e jogam com a cintura larga dos almoços e jantares da campanha eleitoral eterna,

e os pólipos na tripa – mucosa do animal homem/mulher português(a), assobiam para o lado, esfregam-se de contentes, e preparam-se para resistir e contra-atacar como se fossem os verdadeiros cavaleiros do apocalipse,

e, digo eu, estou a reunir todas as forças com a experiência doutras batalhas anteriores e a estratégia está montada. Pelo meio, em força, avança a infantaria da "minha vontade" e pelos flancos, fortes como paredes de betão, avança a cavalaria da "vida". Com estas forças no terreno, não há pólipo que resista e, mais uma vez, vamos vencê-los!

SBF

CAPADÓCIA - TURQUIA



Dizia ela: Ai, o meu sonho de criança era vir à Capadócia.

Ele: O sonho da minha namorada era vir à Capadócia.

Ela: Estudei muito sobre a Capadócia.

Ele: Passei muitos serões a ler panfletos turísticos sobre a Capadócia.

Ela: O meu namorado ensinou-me muito sobre a Capadócia.

Ele: Estou muito contente em poder oferecer este presente à minha namorada.

Ela: Estou muito contente em ter realizado este sonho de criança. De criança, de juventude e sei lá mais o quê.

Ele: Estou muito feliz com o passeio. Só foi pena ter deixado a sandes de fiambre do lanche, na algibeira do casaco.

SBF
(Foto: Vista Capadócia - Wikipédia)

ROSÁRIO DE MARIA


Daquela janela do terceiro andar, via o rio à esquerda chapado nos estaleiros e docas secas em Cacilhas, com letras muito grandes “Lisnave”, orgulho do regime em “primavera” corrida com fim já não muito longe. Recortando ainda esta visão de “esquerda” (para o Tejo), a estátua no meio da praça, que todos dizem - Cais do Sodré, mas é do Duque da Terceira, esta ilha dos Açores, e este Duque, companheiro de armas do quarto D.Pedro, primeiro do Brasil, que daquele grupo central do arquipélago navegou até ao continente e desembarcou na “Invicta” para acabar de vez, em nome do quarto D. Pedro e primeiro do Brasil, com a aventura absolutista do ditador primeiro D. Miguel, em conluio com a mãe Dona Carlota Joaquina, dos dois D. Pedro e D. Miguel.


Daquela janela do terceiro andar via e ouvia os amarelos que, ao passarem sobre os carris, guinchavam e rolavam em direcção ao Camões a subir ou a descer em direcção à dita praça que já foi terreiro do cais e agora do Duque. Os amarelos tinham outras cores vistosas de publicidade e os pendurados davam ainda mais “gosto” ao vai e vem e ao som único do T’liiim! T’lão! Dos amarelos da Carris.


Daquela janela do terceiro andar via, os que entravam e saiam da estação dos comboios “pouca – terra – pouca - terra” da antiga primeira ou segunda classe, não do comboio mas da escola primária de assentos com nome de carteira em peça única com tinteiro para a caneta de tinta – permanente. Reguadas e palmatórias com ponteiro de cana – da – Índia eram ferramentas do “ensinador” oficial.


Daquela janela do terceiro andar via, para o meu lado direito de quem sobe, a entrada para o velho hotel Bragança que já era para o Eça, Bulhão Pato e outros famosos do dezanove desde a contagem depois de Cristo em séculos.


Daquela janela do terceiro andar via, todos os dias e a toda a hora, mesmo à frente do outro lado da, do alecrim, as águas – furtadas que “furtavam” o meu sossego, em sonho constante de rosário de Maria com respeito e de contido desejo à medida da verde idade. Logo de manhã, todos os dias, aquele percurso rotineiro pela Bernardino Costa, largo do Corpo Santo a do Arsenal pelo Município até ao Terreiro, este do Paço. Depois a volta, a respiração ofegante, as pernas a tremerem, a mão quando toca vira choque como se fosse electricidade, ela a corar sempre no meu olhar. O tempo passou contado em muitos anos. Rosário de Maria cheia de amor disponível, e que deixei no meio daquele Verão quente que na história será “ PREC”.


E o Cacilheiro zarpa do cais do sodré para a outra margem, e tanta gente, e depois vem, e eu, o vejo sempre de lá para cá e de cá para lá, daquela janela do terceiro andar.


SBF
(Foto: Cais do Sodré - google earth)

A VIAGEM DO ELEFANTE



Não consigo gostar do homem, mas gosto de alguns dos seus romances.

Acabei hoje de ler a hilariante narrativa que é o romance do José Saramago “A Viagem do Elefante” e fiquei com sensação de, eu próprio, ter feito a mesma viagem naquele tempo, tal é a capacidade provada do escritor, em colocar o leitor dentro da história e fazer com que seja um personagem activo.

Não sou incondicional da escrita do Saramago, mas alguns livros, não os li, devorei-os, como aconteceu com a Viagem do Elefante.

Estou na expectativa do próximo!

SBF


TOURADAS E CIRCOS

Num destes dias, foi votada na Assembleia da República, proposta de Lei do BE para proibição de touradas e circos com animais. Como era de esperar, a maioria dos deputados votou contra.

Há cerca de duas semanas, na Assembleia Municipal de Sintra, foi votada idêntica proposta do BE. Aqui, o resultado foi completamente diferente e a proposta foi aprovada por maioria. Sintra entrou para o reduzido número de Concelhos onde, por Lei municipal, é proibido a realização de touradas e espectáculos de circo com animais.

Como toda a gente devia saber e aceitar, a tradição não justifica tudo. A sociedade muda e existem muitos usos e costumes, que são maus, que devem ser adaptados ou simplesmente acabar com eles.

Relativamente às touradas, apoio a medida no tempo e no modo, é coisa de que nunca gostei e cada vez mais detesto.

Também não sou adepto de circo com animais. Não tinha o hábito de levar os meus filhos ao circo. Embora aprecie os palhaços e outros artistas deste espectáculo, nunca achei piada aos “números” com animais. Também aqui as coisas evoluíram e o futuro é, o moderno circo tipo “Le Solei”. No entanto, considerando a situação social da grande massa dos trabalhadores, artistas e até alguns proprietários de circos em Portugal, sobrevivendo com dificuldades de toda a ordem, sou de opinião que não se deveria ir tão depressa, ou seja, talvez começando com um licenciamento de actividade mais rigoroso, exigindo um padrão aceitável de condições para os animais. É indisfarçável a forma pouco recomendável como nalguns circos se tratam os animais. Existem excepções que confirmam a regra. As exigências para o licenciamento deveriam ser cada vez mais, de maneira a que, naturalmente, os animais fossem desaparecendo do circo, dando lugar a um espectáculo mais actual, mais artístico afinal.

SBF

1º DE MAIO


1º DE MAIO DE 1974

As comemorações do 1º de Maio de 1974 foram decisivas para a consolidação das acções levadas a cabo na madrugada de 25 de Abril, e nas horas que se seguiram. Foi neste dia 1 de Maio de 1974, que se sentiu verdadeiramente a libertação.

Naquele mar de gente, comecei a tomar consciência de que a PIDE, de facto, já não era.

Admiti, finalmente, que a guerra colonial acabaria a tempo de eu não ter que participar nela.

Acreditei que o espírito vivido naquele dia, seria a via a seguir no meu País, e que o slogan, “O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO”, ia ser, como um carimbo da nossa liberdade.

35 ANOS DEPOIS

Somos um País da Europa do século XXI, em que, o que me afligia em 1974, hoje, passou literalmente à história, mas, “O POVO NÃO ESTÁ UNIDO”.

Somos uma democracia ocidental (mais partidocracia) liberal, com esta última parte em decadência, em que o Estado se encontra completamente vergado aos interesses das organizações partidárias.

As notícias deste 1º de Maio deveriam ser sobre os festejos do dia do Trabalhador, mas não, eles encarregaram-se de fornecer matéria para os “média” gastarem todo o tempo falando e escrevendo sobre a passagem de Vital Moreira pela manifestação da CGTP.

Quem teve a responsabilidade da constituição da delegação oficial do PS à manifestação, foi o PS, e ninguém pode pôr isso em causa. É claro que ao levarem o cabeça de lista do PS às europeias, sabendo de antemão que, parte considerável dos manifestantes, são do PC, os dirigentes do PS, não estariam à espera que o Dr. Vital Moreira tivesse uma passadeira vermelha à sua espera. Estamos pois, perante uma lógica partidária, onde vale arriscar tudo, em troca de uma boa visibilidade nos “média” durante vários dias.

Por outro lado, os autores dos insultos, ao “vomitarem” o seu veneno, não souberam cumprir os mais básicos deveres de cidadania, ou seja, respeitar o outro mesmo que seja adversário.

O dirigente máximo da CGTP, demorou demasiado tempo a pedir desculpas. Deveria tê-lo feito de imediato. Não é assim que se trata um convidado, para além de que, com a demora nas desculpas, foi até, “politicamente” incorrecto.

As declarações do porta-voz do PS, foram “pior a emenda que o soneto”. Inchou a questão, falou de ódio colectivo, e quem, ouvindo-o, não soubesse a que se referia, pensaria que estávamos perante uma guerra civil.

Todos os partidos condenaram, duma forma clara, os acontecimentos, menos o PC. Também o deveria ter feito. Neste caso, como aconteceu com o SG da CGTP, foram politicamente incorrectos, ou seja, ganharam antipatias e não simpatias como é normal.

Esperamos que a moda não pegue, e que cada um vá às manifestações onde encaixa, porque o direito de tendência é para ser usado em toda a sua plenitude. Se não fosse assim, não havia duas manifestações diferentes.

SBF
(Foto: 1º de Maio 1974 Eduardo Gageiro)

NÃO FOI POR ESQUECIMENTO

  NÃO FOI POR ESQUECIMENTO Não foi por “esquecimento” que ao longo de 49 anos, a Assembleia da República nunca reuniu solenemente para ass...