RIO DAS FLORES De Miguel Sousa Tavares


Em “Rio das Flores”, a narrativa percorre o final da primeira república e a instauração do estado novo (eufemismo para regime fascista) que se seguiu à ditadura militar resultante do golpe de 28 de Maio de 1926.

Miguel Sousa Tavares descreve, duma maneira muito própria, a vida duma família de grandes proprietários alentejanos. Do amor incondicional à terra até à necessidade de conhecer novos mundos e outras aventuras, tudo cabe, bem distribuído, pela família Ribera Flores. Todos são diferentes e a grande linha divisória assenta na simpatia pelo regime de Salazar a ponto de um dos irmãos participar na Guerra Civil Espanhola pelo lado das tropas de Franco, enquanto o outro, pensava e praticava o antifascismo e, também por via disso, ter trocado o Alentejo pelo tropicalíssimo e acolhedor Brasil.

Rio das Flores” são seiscentas e tal páginas de boa literatura que aconselho vivamente. Não é dos livros mais baratos para os dias que correm mas, em vez de lhe oferecerem um telemóvel, peça um livro como prenda.

Miguel Sousa Tavares é sobejamente conhecido pela televisão e pelas suas brilhantes crónicas do “Expresso”. A 1ª edição desta obra aconteceu em 2007 pela “Oficina do Livro”.

Silvestre Félix

(Gravura: Capa da 1ª edição do livro)

DIA MUNDIAL DA POESIA


«

LÁGRIMA

Dos olhos me cais,

redonda formosura.

Quase fruto ou lua,

cais desamparada.

Regressas à água

mais pura do dia,

obscuro alimento

de altas açucenas.

Breve arquitetura

da melancolia.

Lágrima, apenas.

»

(Eugénio de Andrade - 1958)

VELHICE E BOM SENSO…


A experiência de vida de qualquer um de nós e os anos que o vinho do Porto passa em descanso são, dizem os entendidos, multiplicados em sabedoria e em qualidade.

Todos esperávamos que o mesmo se aplicasse a alguns mediáticos seniores da nossa praça, mas não, com os que, esta semana, pensando, disseram, acontece exatamente o contrário. Quanto mais idade têm, mais pontapés no bom senso dão. Devemos concluir que não é uma questão de idade, é velhice já a roçar a demência porque outros com mais tempo de vida contado em anos se mostram bem mais jovens.

Ao “velho” empresário que no Clube de Pensadores proferiu tão polémicas declarações sobre o miserável rendimento dos trabalhadores portugueses e últimas manifestações, em tempos lhe tínhamos ouvido teorias bem avançadas e progressistas, pelo que, a deceção ainda é maior. Não terá sido por acaso que, ao contrário do que em situações idênticas aconteceu, o “velho” empresário apareceu ao lado do atual Primeiro-Ministro na campanha eleitoral de há dois anos.

O melhor que tem a fazer, o “velho”, é sair de cena e reformar-se definitivamente.

Silvestre Félix

…DE ALMA FERIDA E SEM ESPERANÇA.


Mesmo sob licença duma qualquer empresa americana, eram fabricados por operários, especialistas, projetistas e engenheiros portugueses na portuguesíssima “Sorefame” e, com ela, entraram pela liberdade.

Baloiçado pela cadência do comboio da linha de Sintra, as imagens correm na tela e todos estão ali, mesmo junto a mim. Dias e dias a fio, apoderamo-nos dos mesmos assentos e vemos o mesmo filme que já não foi visado pela comissão de censura.

A jogada perfeita, embora arriscada, é o destrunfo logo de princípio. O filho do ás de espadas já não quer ir para a Guerra. A cadência do comboio da linha de Sintra mede a distância do que está certo e do errado.

Nenhuma Guerra está certa!

Tantas vezes o comboio da linha de Sintra passou, baloiçou o pensamento, nos tempos que vinham embebedados em promessas que depois foram vãs. Todos os dias, em cada viagem para lá e para cá, a esperança e a confiança aconchegou-nos a alma e ensinou-nos a construir o futuro valorizando todas as oportunidades.

Nós estamos, no tempo de agora, de alma ferida, sem esperança e sem confiança.

Eles, não nos perguntam e destroem tudo o que lhes aparece à frente e, ainda por cima e sem vergonha, transformam a desgraça e o infortúnio do desemprego em “douradas” oportunidades.

Os comboios, no tempo de agora, se os houvesse novos na linha de Sintra ou noutras, seriam fabricados por estrangeiríssima empresa e, com ela, a liberdade já não conta para nada…

…de alma ferida e sem esperança.

Silvestre Félix

(Foto: 1º Ministro e protestos 18.03.2013 – DN)

O NOSSO FUTURO...


A “disciplina” de desenho está na moda da “papaguiação” dos (salvo seja) nossos políticos;

     «o memorando foi mal desenhado…», «o programa de rescisões amigáveis está a ser desenhado… », etc., etc.

As singulares vozes também merecem ser rigorosamente identificadas dando-lhes todas as ricas caracterizações que merecem.

Ora, elas são; analazadas, aveludadas ou irritantemente metalizadas. Como são as vozes do poder, não podem ser umas quaisquer, têm de ser especiais e raras.

Como será que está a ser desenhado o nosso futuro?

Silvestre Félix

(Foto: Manif 2 Março – Google)

REVISÕES EM BAIXA


Por muito menos, o patrão mais compreensivo do mundo, já os tinha despedido por justíssima causa e sem indemnização.

Continuam a falar para os “microgaitas” que lhes metem à frente e dizem sempre a mesma coisa. O que mais confusão faz é o facto de, segundo as sondagens e barómetros publicitados, ainda haver portugueses a admitirem poder vir a votar nas atuais estrelas politiqueiras que por aí, ainda andam. 

No final das contas tudo está pior e não se vislumbra nenhum plano milagroso para virar a tendência. Todos dizem, desde Bruxelas ao Largo do Rato passando por São Bento, que só é possível com o crescimento da economia. Pois, todos o afirmam e até o “ZÉ” sabe que assim é, mas nenhum explica como é que isso se faz dentro da União Europeia e com o euro.

Entretanto vamos levando com austeridade recheada de arrogância e hipocrisia da nossa classe política bem arrumadinha nos partidos da situação.

Silvestre Félix

(Foto: Ministro das Finanças – DN)

DIREITO À CIDADANIA


As cadeiras são sempre poucas para os cus que se querem sentar!

Os inteligentes, mandatários do sistema, estão ocupadíssimos neste tempo de composição das listas de bem comportados e esclarecidos seguidores. A ambição de poder, quase sempre má conselheira, eclipsa a necessária, desejada e honesta prestação de serviço às populações.

Em cima das mesas e bancadas partidárias estão interesses inconfessados que, aqui e ali, vão provocando algumas desavenças originando acertos para repor a força da hierarquia, sempre selada com o ok do chefe.

Se não acontecer nada entretanto, grande parte dos cidadãos eleitores destas autárquicas, mais uma vez, não vão poder eleger os seus preferidos porque, simplesmente, eles nem sequer poderão ser candidatos.

As bem oleadas máquinas partidárias continuam a impor os seus “quadros” para as Câmaras e Juntas (ou, agora, união de Juntas), mesmo que eles nunca lá tenham posto os pés, ignorando a vontade dos eleitores e até dos seus militantes locais.

Os portugueses reclamam a devolução do direito à cidadania!

Silvestre Félix

(Foto: Câmara Municipal de Sintra – Wikipédia)

PAPA E OS PECADOS…


Da escolha cardinalícia que se inicia hoje na Capela Sistina vai depender o “próximo” futuro da Igreja Católica Apostólica Romana;

decadência na continuidade ou evolução na reforma.

Para que o catolicismo corresponda aos anseios dos seus seguidores tem de retomar os ventos de mudança iniciados com João XXIII no Concílio Vaticano II. Os cidadãos católicos não querem continuar a ter problemas de consciência ou, no extremo da prática, continuar a pecar, por viverem o seu dia-a-dia fazendo votos de fidelidade eterno no casamento religioso, usando contracetivos ou interrompendo gravidezes em justificadas situações, na condição de padre ceder ao sentimento mais humano e generoso que é o amor ou conformar-se com as limitações de acesso da mulher ao sacerdócio. Por outro lado, as lutas pelo poder e pelo enriquecimento, dentro do Vaticano e mesmo na Cúria Romana, não podem continuar a nublar a pretendida santidade da Igreja.   

Para que o catolicismo tenha um futuro auspicioso o novo Papa tem de ser progressista e reformista, senão, se continuar tudo na mesma, a Igreja Católica Apostólica Romana cairá numa trajetória decadente definitiva. 

Silvestre Félix

(Foto: Basílica de S. Pedro, Vaticano - Reuters/DN)

NÃO FOI POR ESQUECIMENTO

  NÃO FOI POR ESQUECIMENTO Não foi por “esquecimento” que ao longo de 49 anos, a Assembleia da República nunca reuniu solenemente para ass...