NUM DESTES DIAS

Anti - democracia 
net de Wilson Ferrer
Um dia, passados para lá de cinquenta e cinco, em anos contados, no tempo duma senhora que era outra, acabado de chegar à ainda capital do império, para mais um dia do novo trabalho, eu vi uma bicha enorme de malta nova que presumi serem estudantes universitários, atendendo à vestimenta de alguns, virados para a parede e nesta, encostados com as mãos levantadas e espalmadas, pela nobre Praça dos Restauradores, acima.

A uns dois ou três metros de distância, no meio do asfalto, outra bicha ombro-a-ombro de policias fardados e armados e, na cuidada, importante e minuciosa tarefa de apalpação das, ou dos interpelados, outros autoritários, atendendo à maneira bruta como se dirigiam e mexiam nos estudantes, que achamos, eu e outras pessoas que disfarçadamente e a alguma distância observávamos, serem diligentes agentes da PIDE que, para justificarem a patriótica ação, levariam com algemas para a António Maria Cardoso, dois ou três das, ou dos apalpados.

Também naquela primavera marcelista disfarçada, se dizia, oficialmente, que as forças policiais atuavam para garantir a segurança dos cidadãos e da ditosa pátria, de perigosos e subversivos criminosos e terroristas.  

Naquele dia, como noutros da primavera de 1969 e seu rescaldo, tinha sido mais uma manifestação estudantil revindicando direitos básicos e democratização do ensino superior com a existência e funcionamento das associações académicas.

Num destes dias, na atualidade estranha da segunda década do século XXI, também vi, em imagens televisivas e fotos transmitidas pelas televisões e redes sociais, uma bicha enorme de cidadãos, na generalidade contribuintes, da mesma forma encostados e de mãos espalmadas na parede e a serem apalpados e revistados por polícias à civil, enquanto outros, fardados e armados, perfilados estavam a dois ou três metros da parede, igualzinho como faziam há cinquenta e cinco de tempo em anos contados.

Também levaram presos dois ou três, não sei se daqueles encostados à parede ou doutro sítio, e os argumentos de segurança dos cidadãos (quais?) e do País, são os mesmos.

Evidentemente que as semelhanças nos argumentos justificativos e na ação, é mera coincidência. Não me passaria outra coisa pela cabeça, mas que me preocupa, preocupa!

S. Brandão Félix

27 dezembro de 2024

A MORTE DE GIL MATIAS

Representação de "O Palheiro" 
na URCA 1979 encenado por
Gil Matias
A morte do grande Gil Matias, deixa a cultura do nosso concelho muito mais pobre. “Palavras leva-as o vento” e, nestas ocasiões, são sempre demais. Tudo deve ser dito e feito, enquanto a morte não faz o seu “trabalho”. Lamento muito não ter estado mais uma vez com ele, antes da sua partida. Obrigado, Gil Matias! Descansa em paz! Nas crónicas que publiquei no blogue “Largo do Chafariz ao Sol”, e depois incluídas no livro com o mesmo nome, fiz várias referências à passagem do Gil Matias pela URCA e não só. Nesta altura, lembro aqui passagens de duas crónicas de fevereiro de 2011.
 
 GITU E O GIL MATIAS (15.02.2011)
 https://largodochafarizaosol.blogspot.com/2011/02/urca-depois-de-18-de-abril-de-1976-2.html 

…O principal responsável pelo êxito deste trabalho foi Gil Matias. Depois de «O Palheiro», manteve-se na direção do GITU por mais dois ou três anos. O Gil Matias muito tem dado à cultura do Concelho de Sintra e, particularmente, ao teatro amador de inúmeras coletividades e associações da região. Avesso a homenagens e a manifestações públicas de apoio, constata-se que permanece vazio o lugar que lhe cabe pelos serviços prestados à comunidade. Nesta minha conclusão, incluo naturalmente a URCA e a população da Abrunheira. Pela minha parte, e em nome de todos os que pensam como eu, agradeço ao Gil Matias toda a sua dedicação e generosidade em prol da cultura. … 

 MATRIZ CULTURAL (22.02.2011) 
https://largodochafarizaosol.blogspot.com/2011/02/urca-e-sua-matriz-cultural.html 

 …O êxito da apresentação de «O Palheiro» foi, acima de tudo, uma aposta arrojada do Gil Matias. Os componentes do GITU eram inteiramente amadores e, para levar à cena esta obra, houve necessidade de recrutar muitos mais elementos. Cada reunião, cada ensaio, eram autênticas lições sobre a arte de representar. Gil Matias foi encenador, diretor, professor, Pai, irmão e sei lá mais o quê. Mais de metade do ano de 1978 foi necessário para dar corpo ao espetáculo. A peça é grande e a criação das personagens muito trabalhosa. Não foram poucas as vezes que tudo esteve quase a parar, mas com a nossa vontade e com a coragem e sabedoria do Gil Matias, lá conseguimos chegar ao dia do ensaio geral. Os nervos eram muitos na estreia. Sentados na plateia, estavam olheiros importantes e a população da Abrunheira em peso. … 

 S. BRANDÃO FÉLIX 
 26.12.2024

NÃO FOI POR ESQUECIMENTO

 

NÃO FOI POR ESQUECIMENTO

Não foi por “esquecimento” que ao longo de 49 anos, a Assembleia da República nunca reuniu solenemente para assinalar a data de 25 de novembro de 1975. Também não o fez relativamente ao 28 de setembro de 1974 e ao 11 de março de 1975. Para quem não percebeu ou não quer perceber, foram dias em que ocorreram eventos marcantes para o PREC (Processo Revolucionário Em Curso) iniciado com o golpe de estado de 25 de abril de 1974 levado a cabo pelos Capitães de Abril, organizados no MFA (Movimento das Forças Armadas) e que, nesse mesmo glorioso dia, traria para a rua muitos milhares de portugueses a festejarem a libertação das amarras da longa ditadura e a encherem os canos das armas dos soldados, com cravos vermelhos.

Após 25 de novembro de 1975, a força do MFA estava unida em volta do “Grupo dos Nove” materializada com importantes intervenções de Ernesto Melo Antunes, Vasco Lourenço, Costa Gomes e outros. Estas posições públicas foram determinantes para calarem o aventureirismo de alguma extrema-esquerda e encostarem à parede os da extrema-direita fascizante que viram naquele dia a oportunidade de regressarem ao antigamente e voltarem a encarcerarem os comunistas e afins, nas prisões da Pide.

Reorientados os caminhos para a consolidação da democracia, sem ressentimentos, com algumas feridas, mas devidamente tratadas, sem vencidos nem vencedores e com um consenso político-militar alargado, ultrapassou-se a última grande provação do tortuoso percurso do PREC.

Até que, passados 49 anos, uma maioria de “iluminados” deputados da XVI Legislatura da República, em que a média de idades é de 48 anos e meio, ou seja, grande parte ainda não tinham nascido quando o 25 de novembro aconteceu, puxados por uma extrema-direita trauliteira e populista, decidem abrir uma ferida há muito fechada e aprovam a realização duma sessão solene na AR, semelhante à do 25 de Abril, para comemorar aquela data.

Lamento, como decerto lamentam muitos portugueses, que deputados da nossa República, estejam a protagonizar tamanha afronta ao 25 Abril, aos Capitães de Abril e à Democracia.

Volta a justificar-se que se grite com toda a força,

25 DE ABRIL, SEMPRE!

S. Brandão Félix

24 novembro de 2024



NUM DESTES DIAS

Anti - democracia  net de Wilson Ferrer Um dia, passados para lá de cinquenta e cinco, em anos contados, no tempo duma senhora que era outra...