A propósito
da deliciosa leitura do “Cafuné” de Mário Zambujal que trata de alguns episódios caricatos antes,
durante e após a partida da família real para o Brasil em finais de 1807 na sequência da primeira invasão francesa,
fui buscar à prateleira o “1808” de Laurentino Gomes.
Desfolhei o
livro de Laurentino e detive-me em
alguns capítulos tentando estabelecer ligações com o País de hoje, duzentos e
poucos anos depois. Quando o li pela primeira vez em 2008 parecia-me estar a
conhecer a história de um outro Portugal ou,
pelo menos, de há muitos mais séculos para trás. Mas não, tratava-se de um
Portugal tão próximo que muitos problemas subsistem até hoje. O destino do
nosso País em 1807 era ser protetorado de uma de duas potências estrangeiras – França de Napoleão ou Inglaterra. A
família real quando partiu levou tudo incluindo o tesouro. Os portugueses
ficaram sem “um tostão furado ao meio”
– literalmente na bancarrota. Era o princípio de um ciclo de miséria no nosso
País.
Neste início
do século XXI somos protetorado outra vez. Agora de uma maneira mais
sofisticada porque os “conquistadores”
não se apresentam de armadura e espada à cinta. Como há duzentos anos, também
estamos entre a “madrasta europa” e o
caminho dos oceanos. Descontando o facto dos oceanos já não nos transportarem
aos quatro cantos do império, acho eu que sempre será melhor navegarmos
ativamente no espaço da Lusofonia do que continuarmos a ser espezinhados,
humilhados e roubados.
Mário Zambujal, jornalista, cronista e escritor
nasceu em Moura em 1936, trabalhou em
vários jornais de Lisboa, na RTP e
tem escrito obras sempre com grande sucesso. O seu livro mais conhecido é a “Crónica dos Bons Malandros” escrito em
1980. Esta história foi adaptada ao cinema por Fernando Lopes e, recentemente, ao palco num musical de Francisco Santos e o próprio Mário Zambujal. Este “Cafuné”
é muito engraçado e recomendo vivamente a leitura. Edição do “Clube de Autor” em Outubro de 2012.
Laurentino Gomes é brasileiro. Nasceu em 1956, é jornalista
formado e com várias pós-graduações e cursos no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Tem trabalhado nos principais
órgãos de informação do Brasil tendo
investigado e escrito duas obras superiores sobre a chegada da corte portuguesa
ao Brasil, sua permanência, regresso
a Portugal e os primeiros anos de
independência do Brasil – “1808”
e “1822”. Para percebermos melhor quem somos e qual é o nosso “fado”, aconselho a leitura destas duas magníficas
obras. 1ª edição (1808) pela Dom Quixote em Janeiro de 2008 e 3º
edição BIS (bolso) em Setembro de 2011.
26 de
Setembro de 2013
Silvestre Félix