Na onda do que se entende no ocidente por democracia, continuam;
a europa, os USA, e outros anglófonos e francófonos, a querer impor noutras
latitudes o mesmo tipo de regime para, usando a força dos lóbis e da corrupção,
levarem os seus negócios avante.
Vê-se o que aconteceu com a “primavera árabe”. Os ocidentais,
com o argumento de que os ditadores no poder tinham que cair, ajudaram ao
derrube dos regimes da Tunísia, Líbia, Egito e Síria, tal como já tinham feito
com o Iraque.
O que ficou?
A Tunísia recuperou, mas continua instável.
A Líbia, sem Kadafy perseguido e assassinado pelos pseudo-libertadores,
está transformada numa zona de tribos armadas e salteadores, sem qualquer
controle estatal e o país está destruído.
No Egito, o exército acordou a tempo. Outros ditadores,
chegados ao poder pelo voto promovido pela “primavera ocidental”, estavam a
transformar o país numa ditadura religiosa.
A Síria, país, antes próspero, recebendo muitos milhões de
turistas por ano, onde todas as religiões existiam em liberdade, ainda não é o
califado e Estado Islâmico porque o antigo regime se defendeu contra tudo e
todos. O preço é elevado, mas, como tudo leva a crer, está a salvo do domínio
do Estado Islâmico.
Sem terem noção das diferenças do desenvolvimento das
diversas regiões do globo, continuam, os ocidentais, a quererem mandar onde
antes o fizeram pela colonização. A organização política que serve para a
europa, a democracia que conhecemos, pode não servir exatamente da mesma
maneira para África.
Neste sentido e pelas mesmas razões, choca-me ouvir
referências altamente pejorativas, a países que antes foram colónias
portuguesas e com quem temos relações privilegiadas, sem que, para além dos
regimes vigentes há anos, simpáticos ou não, não tenha acontecido mais nada a
registar.
Os portugueses já não mandam em Angola.
O que se passa em
Angola só aos angolanos diz respeito. Angola é um país africano e é à luz desse
facto, que deve ser considerada qualquer análise séria sobre o seu regime
político.
Para mim, não é admissível que na nossa Casa da Democracia, a
partir da tribuna, seja dito sobre Angola o que se disse ontem. Que o façam
noutras tribunas, em manifestações, nas televisões, nos jornais, mas no mais importante
Órgão do Estado Português, a Assembleia da República; não!
As últimas eleições em Angola, validadas pela Comunidade
Internacional, foram em 2012 e as próximas, estão previstas para 2017.
Silvestre Félix
15.12.2016
Etiqueta: Angola, Assembleia da República
Foto: Assembleia Nacional de Angola (Wikipédia)