REGIONALIZAÇÃO

A ausência de partilha e descentralização do poder é a grande falha do nosso regime democrático. Está aqui, nesta constatação, provavelmente a razão mais consistente para justificar o nosso fracasso económico como País e o consequente abandono de vastas zonas do interior de norte a sul do território.

Mais uma vez encontramos a responsabilidade da situação, nos partidos no arco de poder. Têm querido manter, por todos os meios, a exclusividade do governo centralizado. Não nos esqueçamos que mesmo no ano em que Guterres levou a regionalização a referendo, uma parte considerável do PS e do Governo, não estava com o sim.

Não restarão muitas dúvidas que o atual modelo económico está esgotado e, qualquer que seja a alternativa vai necessariamente passar pela regionalização. Não percam tempo com referendos, mapas polémicos e artificiais e considerem como aceitáveis as cinco regiões-plano existentes: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.

Eu não fiquei nada admirado com a retirada da regionalização da agenda de Sócrates. Tem tudo a ver com o homem e com a postura do Governo. O PS já tinha muitos problemas para resolver e agora tem mais outro porque a questão não é pacífica, é mesmo fraturante.

Silvestre Félix

ENSINAMENTOS DO “BOTAS”

A mim, o que me sabia mesmo bem era o bitoque. Havia dias que escolhia outra coisa só para variar, nunca para substituir o bitoque. Sai um bitoque especial! Gritou o Marinho para a cozinha. Acompanhava com uma imperial especial de corrida tirada pelo António que, naquela 5ª feira, e desde que me sentei ao balcão há um quarto de hora, já discutiu com o Chico aí uma dúzia de vezes.

Ao meu lado direito, estava o Artur Caparica que continuava preocupado com a sensação de andar a ser seguido por um gajo de fato e chapéu de abas. No mesmo dia de manhã, sem ninguém por perto, tinha-me contado que, com um primo, estava a pensar dar o salto para França para não ir à tropa. Deu-me a entender ter a certeza de não querer ir para a Guerra e, a única solução, era pirar-se daqui para fora.

À luz daquela janela do terceiro andar, li no Diário de Notícias que, amanhã, num qualquer dia e mês de 1973 mas de certeza a uma 6ª feira, levantaria ferro do cais da Rocha Conde de Óbidos o navio “Niassa” com militares portugueses com destino a Moçambique. Acrescentava ainda a notícia que, "a defesa daquela parcela do território nacional, como o iam fazer estes valorosos soldados, sargentos e oficiais, era um desígnio patriótico a que nenhum português se pode furtar”.

Os sucessores do “botas” continuavam fiéis aos seus ensinamentos.

Na 6ª feira o Caparica não apareceu ao trabalho e o mesmo aconteceu na semana seguinte. Da janela do terceiro andar, olhando para Cacilhas e Almada, tentava imaginar o que lhe teria acontecido. Estará na cidade luz? Terá corrido tudo bem?

Verão de 2010 longe daquela janela do terceiro. «De dentro dum Mercedes 280, saiu o tal gajo de fato e chapéu, agarrou-me e atirou-me para o banco de trás onde estava outro. Arrancaram em velocidade moderada, subiram a rua do Alecrim, viraram à direita para o Chiado e meteram pela rua António Maria Cardoso. Percebi que estava na pide. Perguntas e mais perguntas, sem dormir, bom, o resto já se sabe. Pareceu-me que se passou dois dias e Caxias a seguir. Seis meses depois assentei praça e mais sete meses, estava na Guiné. Foi uma mina anti-pessoal e um trambolhão na vida.»

Era quase uma hora e o “Califórnia” estava a encher. Ao balcão já não havia lugares vagos e as mesas estavam todas ocupadas.

(Nomes e situações ficcionadas)

Silvestre Félix

POVOS DO MAGREBE

Os povos do Magrebe vão continuar a não dar descanso aos ditadores. A situação na Líbia é explosiva e está à beira de um banho de sangue porque o coronel, filhos e seguidores, escolheram o pior caminho para responderem aos contestatários.

Khadafi está a reafirmar-se como um verdadeiro sanguinário. Já se conhecia a sua índole mas, o ocidente readmitiu-o na roda de interlocutores a pretexto da sua suposta postura anti-Bin Laden.

A incerteza do que se vai passar nos próximos tempos em toda a região, está a criar uma nova ameaça para a Europa. É previsível que se desenvolva uma ou várias correntes de imigração nos países costeiros do Mediterrâneo com proveniência de todo o Magrebe, com todas as consequências que daí advêm.

Os tempos não vão melhorar. A Europa continua a não estar preparada para responder a estas contrariedades. Cada obstáculo que surge, mais se percebe que a Europa unida é uma miragem.

Silvestre Félix

A RTP MAIS POBRE!

O José Alberto Carvalho e a Judite de Sousa são dos melhores profissionais da nossa comunicação social. A RTP perdeu-os. Principalmente o JAC, desde que tomou posse como diretor de informação, nunca mais lhe deram tréguas sobre os tempos de imagem e notícia atribuídos aos partidos da oposição. Um profissional deste gabarito deve ter mais com que se preocupar. Não pode estar sujeito à contagem dos minutos de uso do ecrã que o aparelho deste ou daquele partido fez.

O constante escrutínio a que estes profissionais na RTP são submetidos, é incompatível, numa grande parte das vezes, com o exercício da profissão.

Ainda por cima, num destes dias, os seus ordenados e subsídios, apareceram esparramados na imprensa. Como se nas concorrentes privadas os ordenados não fossem iguais ou ainda maiores.

A RTP fica mais pobre e, neste caso, a TVI melhora significativamente.

Silvestre Félix

PRATELEIRA DE LIVROS

“A Casa-comboio” de
Raquel Ochoa

A jovem escritora Raquel Ochoa, vencedora do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís 2009 instituído pela Estoril-Sol, conseguiu, através do seu primeiro romance – A Casa-comboio, prender-me à genial narrativa do princípio ao fim.

Independentemente da qualidade da escrita, o romance, que é histórico, dá a conhecer uma parte importante da nossa história materializada no conhecimento do epílogo do Estado Português da Índia. Na verdade, em 1961, os acontecimentos e os pormenores da entrada da União Indiana em Goa, Damão, Diu e Nagar-Aveli, nunca foram revelados ao povo português. A forma como as coisas aconteceram estão bem ilustradas nesta obra, embora o livro não se detenha duma forma principal nesta questão.

Raquel Ochoa conta a saga da família Carcomo ao longo de 4 gerações desde 1885 em Damão, até 2001 em Portugal. Pelo meio, a autora mostra-nos pela escrita os locais onde, através dos tempos, se desenrolam todos os momentos, bons e maus, desta família, desde Honorato, um filho Rudolfo, um neto Baltazar, uma bisneta Clara e todos de apelido Carcomo.

Raquel Ochoa nasceu em 1980 em Lisboa. Começou por escrever crónicas de viagens em resultado das suas reportagens e, à Índia, já foi mais de uma vez.

Edição da Gradiva e a primeira em Março de 2010.

Silvestre Félix

(Imagem: Cartaz com a capa do livro do blogue da autora)

JOSÉ AFONSO E AS PALAVRAS

Zeca Afonso é a melhor tradução da luta pela democracia no nosso país.

As suas composições e a passagem da mensagem através da sua voz foram, durante os últimos anos de ditadura e primeiros da democracia, a forma mais genuína e verdadeira de mobilizar os portugueses para a criação duma sociedade mais justa.

José Afonso morreu há 24 anos, a 23 de Fevereiro de 1987. Passado todo este tempo, não nos podemos admirar com o ressuscitar de algumas das suas obras porque as palavras escritas há 40 anos ou mais, estão atualizadíssimas.

Naturalmente que do ponto de vista ideológico, Zeca Afonso sempre se identificou com uma esquerda que ele fazia questão de afirmar, independente. Tinha opiniões muito próprias e nunca se submeteu à disciplina de nenhum partido.

Durante a ditadura a pide não lhe deu descanso. Muitas das suas canções ou não chegavam a ser publicadas ou, se o eram, em pouco tempo a censura dava o dito por não dito, e vinha a proibi-las mais tarde.

Em 1974, os Capitães de Abril viriam a escolher uma das suas composições, a “Grândola Vila Morena” para senha do arranque das operações que viriam a derrubar a ditadura no nosso país.

Silvestre Félix

FOI NUM JOGO DE FUTEBOL

As emoções e as paixões que um jogo de futebol comporta, estão muito para além do que é razoável para um normal ser humano.

Todos nós devíamos ter capacidade para repelir o que é mau, nem que para isso o corpo tivesse de estar equipado com uma espécie de alarme. Esse acessório, sempre que houvesse perigo dum desentendimento, desataria num berreiro tal, que, automaticamente, desativaria a má onda e tudo voltava à paz.

Ontem, assistimos mais uma vez a tudo o que de pior nós transportamos. Não interessa se foi em Alvalade ou na Luz. Foi num jogo de futebol. Ouvindo as duas partes em confronto – a polícia e os adeptos – não conseguimos chegar a nenhuma conclusão sobre quem não fez o que devia fazer.

Um Estado civilizado não pode admitir que situações destas aconteçam. Em cenários como os de ontem, as regras devem ser claras e aplicadas aos prevaricadores duma forma sumária e sem contemplações.

Temos muitas outras coisas que nos preocupam, não podemos gastar energias com razões comezinhas e fanatismos primários.

Silvestre Félix

FATURA DA ÁGUA

Notícias vindas hoje a público dão conta que as faturas de consumo de água que não sejam pagas dentro do prazo, passarão de imediato para a situação de execução fiscal em vez da habitual cobrança de juros.

Quando isto acontecer, a execução fiscal traduzir-se-á numa duplicação do valor da fatura. A medida é justificada pelo escrupuloso cumprimento da Lei do Orçamento de Estado de 2011.

Seja por causa do orçamento, seja pelo que for, a ser verdadeira esta notícia, ela traduz bem o desprezo que as entidades responsáveis demonstram pelos cidadãos deste país.

São muitas as razões que podem levar um consumidor a não pagar a fatura da água dentro do prazo. Algumas serão merecedoras de punição, mas haverá outras que atravessam toda a população, que são perfeitamente justificáveis e não podem ser ignoradas por quem exerce o poder.

Se isto for verdade, é terrorismo de estado no seu melhor estilo!

Silvestre Félix

IMAGENS DA CATÁSTROFE

Desde este Sábado que as televisões, repetidamente, passam imagens da catástrofe de há um ano na Madeira. Têm passado também reportagens feitas esta semana, com participação de madeirenses que viveram os acontecimentos. Dá para ver que alguns dos entrevistados têm muita dificuldade em falar do assunto mas, duma forma geral, o repórter não desiste.

Acho dum mau gosto terrível, voltar a passar imagens de hora-a-hora, sem que as mesmas sirvam para suportar qualquer tipo de notícia.

É legítimo que se assinale a passagem dum ano sobre as cheias na Madeira mostrando o que se já se fez, o que se recuperou e o que falta. Também é normal que se fale do que não tem corrido bem e que se apele às autoridades competentes.

É incrível como o que vemos nas televisões, tem muito mais a ver com as percentagens de audiência e share do que o interesse do telespectador e da população em geral.

Silvestre Félix

A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

A liberdade de expressão é a coluna vertebral da democracia como nós a entendemos. Da mesma forma que só nos lembramos do ar que respiramos quando, por qualquer razão, nos falta esse bem essencial, também a liberdade de expressão incondicional é encarada e assumida duma maneira natural, quando não se vive em ditadura como acontecia em Portugal antes de 25 de Abril de 1974.

No entanto, como em tudo na vida, devemos saber usar as ferramentas que temos e, acima de tudo, quando envolvemos outras pessoas, instituições, etc.,. No âmbito político, é frequente ouvirmos referências de uns políticos a outros, que roçam o insulto mas, se duma vez acontece com um, doutra acontece ao contrário e eles lá se entendem. Gostam e aceitam insultar e ser insultados.

Fora da classe política, designadamente no mundo empresarial, é normal assistirmos a alguma diplomacia quando se fala do Governo, de membros do Governo ou até da oposição. As pessoas manifestam-se igualmente mas, porque representam empresas ou associações empresariais, habitualmente não pessoalizam as apreciações que fazem. Como as excepções confirmam a regra, também nesta área, as há.

Neste Sábado, o líder o grupo “Jerónimo Martins”, que é a cara de muitas empresas cá e lá fora, patrão de muitos milhares e fornecedor de bens essenciais de muitos milhões de portugueses, referiu-se ao “Sócrates”duma maneira pouco apropriada, roçando mesmo níveis muito baixos de educação.

Hoje, decerto existe uma maioria de portugueses que não morre de amores por José Sócrates, que ficaria contente de o ver “pelas costas”mas acontece que ele ainda é o Primeiro-Ministro de Portugal e o “Sr. Pingo Doce” tem obrigação de se lembrar disso.

O sr. pode dormir num colchão com molas de ouro, em vez de papel higiénico, pode usar rolos de notas de 500 euros, mas isso não lhe dá o direito de se esquecer o que é a boa educação.

Silvestre Félix

A FOME EXISTE!

Um dos maiores problemas que os povos do mundo inteiro hoje enfrentam, é o constante aumento dos produtos alimentares.

Desde 2007 que a tendência se vem consolidando. No início deste ano tudo se agravou com as condições atmosféricas adversas nalguns pontos do globo, designadamente na Austrália, Brasil e em alguns estados dos USA.

As populações mais afetadas com estes aumentos são as do continente africano e da Ibero-América. Os cereais e principalmente o trigo e o milho são os mais atingidos pelos aumentos.

Mais de 40 milhões de pessoas, em resultado desta situação, recuaram ao limiar da pobreza nos últimos meses.
Os poderosos e donos do capital - Não ouvem, não vêem e não ouvem!

Silvestre Félix

REVOLUÇÃO SEM FRONTEIRAS!

Os grandes movimentos contestatários e revolucionários que derrubaram os regimes da Tunísia e do Egito, não estão limitados ao Magrebe. Estendem-se por todos os países árabes e também no Irão. Na Líbia e na Argélia, as forças policiais e militares estão a encontrar dificuldades em controlar as manifestações. O mesmo sucede em alguns países do golfo como é o caso do Iémen e do Bahrein. A situação está, da mesma forma, a acontecer fora da grande região árabe. No Irão, e no seguimento das movimentações oposicionistas aquando das últimas presidenciais em 2009, está, novamente ativa nas ruas, uma forte contestação ao atual poder.

Mais do que revoltas pontuais a pretexto do generalizado aumento dos bens de primeira necessidade, que é real e dificulta o dia-a-dia de quem já vive com muito pouco, estamos a assistir a um grande movimento revolucionário sem fronteiras, que se levanta contra tudo o que é ditadura e seus protagonistas.

Também me parece que a motivação maior é a possibilidade de viverem em democracia como, com mais ou menos clareza, a vêem no mundo ocidental. Acho que, salvo uma ou outra excepção que confirma a regra, daqui para a frente será muito difícil continuarem a vingar regimes autoritários em toda a região árabe e persa.

Silvestre Félix

SÓ, PARA ZÉ POVINHO VER, OUVIR E VOTAR!

Mesmo em tempos difíceis, em que seria razoável um certo consenso no que respeita aos meios e medidas para debelar a crise, os portugueses estão condenados a vegetar ao ritmo da classe política.

As sociedades democráticas ocidentais, como a portuguesa, assentam na existência de partidos políticos. Na sua organização, há países mais tolerantes do que outros, na abertura de intervenção política a movimentos vivos de cidadania fora dos partidos. Em Portugal, o poder partidário tem mantido a exclusividade de legislar e de governar e, enquanto o paradigma não mudar, temos que “levar” com eles.

O negativismo desta introdução é justificada pela constatação de que o interesse partidário ou de grupo, está sempre acima do nacional.

Todas as declarações e atitudes dos nossos partidos, têm, em primeiro lugar a ver, com o que a opinião pública vai pensar e se dá para as intenções de voto subirem.

No último fim-de-semana, depois de estar adquirido que o PSD ia abster-se na votação da moção de censura do BE, aquela dramatização de Sócrates sobre o compasso de espera do PSD, é completamente descabida. À hora a que discursava, estava farto de saber que a moção não ia passar e, se estivesse a ser verdadeiro na intenção, nem falaria no assunto. Foi só para Zé Povinho ver e ouvir.

O BE, subalternizado com o resultado das presidenciais, quis redirecionar os holofotes e marcar a agenda por cima da do PCP. Qual interesse nacional ou dos trabalhadores?? Mera jogada partidária que até internamente correu mal.

Relativamente ao PSD, salvo uma ou outra declaração autónoma, só falta dizerem qualquer coisa deste tipo: “deixa-os cair de podres…”. Vão resistir à ansiedade de alguns, não porque o interesse nacional esteja primeiro, mas porque lhes interessa, por enquanto, o PS a governar para fazer a pior parte, o mais odioso. Se assumissem a governação agora, com todas as dificuldades em cima da mesa, chagavam ao final do ano já em desgaste.

Há dias em que já não os consigo ouvir!

Silvestre Félix

AUTO-FLAGELAÇÃO

Algumas “catedrais” do consumismo, os shopping’s e centros comerciais, estiveram a abarrotar de clientes durante todo o dia de ontem. Disseram, os que lá foram, que até parecia que toda a gente estava de férias, tal era a quantidade de compradores, de “cartão” em riste, esperando a sua vez para comprar.

Recentemente inventado nestas terras Lusitanas, o dia dos namorados ou de S. Valentim, tornou-se num autêntico segundo “Natal” para todo o comércio. Mal comparado, se considerarmos a abrangência natalícia.

Neste dia 14 de Fevereiro só se consome supérfluo!

As prendas que os namorados, casados e assim-assim oferecem entre si, são superficialidades das mais primárias que há!

Ontem, em comentário de entrada da Vera Mónica no Facebook escrevi:

O supérfluo tenta-nos a cada esquina
e o consumismo devora-nos...
É a auto-flagelação dos nossos tempos!

Silvestre Félix

PRATELEIRA DE LIVROS

“Livro” de
José Luís Peixoto

Este livro aborda, duma maneira imaginativa e singular, a temática da emigração portuguesa para a Europa democrática por toda a década de 60, entrando nos 70 e até ao 25 de Abril de 1974. Neste caso, o destino emigrante da história é França.

A Vila alentejana é, mais uma vez, o local escolhido por JLP para iniciar e acabar, a aventura das personagens da sua obra.

A sociedade introvertida e preconceituosa daqueles meados do século XX, levava a que os mais audazes tentassem a sua sorte por terras de França. As razões, havia-as muitas – desde a simples procura de uma vida melhor, do namoro de Adelaide não desejado pela velha Tia Lubélia, passando pela fuga à ida certa para a Guerra Colonial do Cosme e pela paixão desmedida e quase desmiolada de Ilídio.

Os episódios dos “saltos”, principalmente na fronteira Portugal/Espanha, avalizam bem os riscos que todos corriam mas, ainda assim, preferíveis, ao Portugal salazarento de então.

Vou continuar a acompanhar a obra de José Luís Peixoto porque me dá gosto!

A edição é da “Quetzal” e a primeira em Setembro de 2010.

Silvestre Félix

(Imagem: Capa do livro do site da Quetzal)

VONTADES

Hoje, estive como o tempo:

Cinzento e sem vontades!

Também tenho o direito de não ter vontades.

Amanhã estará sol e a vontade voltará.

Até Logo!

Silvestre Félix


O MAGREBE

A onda revolucionária que percorre o Magrebe, festeja, desde ontem, a grande vitória que foi o afastamento de Mubarak da presidência do Egito.

Os autoritários do mundo não têm dormido descansados nestes últimos dias. O exemplo do povo árabe pode espalhar-se e ameaçar muito ditador que, por todo o lado, tentam perdurar no poleiro por todo o sempre.

As imagens que nos chegam do Cairo até arrepiam. A aliança povo-exército funcionou até agora e, todos esperamos, que continue a funcionar para o difícil período que começa agora. O Egito tem todas as condições para continuar a ser um grande país democrático.

É muito importante que, independentemente do que venha a acontecer em todos estes países, tudo seja pacífico ou, pelo menos, o mais próximo possível.

Silvestre Félix

A GRANDE LIÇÃO DO MUNDO!



Todos os dias 11 de Fevereiro pelo tempo fora, deverão ser a celebração da libertação de Nelson Mandela.

Passaram 21 anos desde que as portas da prisão se abriram para devolverem por inteiro à África do Sul e ao mundo, o seu maior símbolo.

Nelson Mandela – A grande lição do mundo!

Silvestre Félix

DURANTE UM MÊS!

Uma moção de censura cozinha-se em lume brando durante um mês!

Durante a cozedura, junta-se devagarinho, grandes quantidades de discussões vazias de sentido, tiras refinadas de comentadores bem pagos, tertúlias em quadraturas atulhadas de politólogos da nossa praça, meia-dúzia de partes de creme de Belém, um bom pacote de juros da dívida bem curados, uma dúzia de palestras dos habituais profetas de desgraça e, para dar o tempero final, muitas paletes de ansiedade do Zé, de preferência, produzidas biologicamente.

Servir em travessa semi-circular em temperatura amena porque, não havendo esse cuidado, todos os comensais sairão escaldados.

Silvestre Félix

A BANCA E OS LUCROS

Os bancos portugueses não tiveram quebra de lucros em 2010 relativamente ao ano anterior.

Os quatro maiores: BCP, BES, BPI e Santander Totta, ganharam cerca de 1,4 mil milhões mas, como de arte mágica se tratasse, pagaram em impostos menos 168,8 milhões de euros.

É frequente dizer-se, que em tempos de crise se abrem janelas de sucesso. Muita agente duvida desta máxima mas, para a banca portuguesa, é mesmo verdade.

Manterem o lucro, “ainda vá que não vá”, agora, pagarem menos imposto, ao invés do que acontece com o resto do País, é condenável sob todos os aspectos.

Os portugueses não entendem e é legitimo que se sintam enganados.

Silvestre Félix

O GOVERNO E AS ALTERNATIVAS

Ao princípio da noite desta Terça-Feira, o principal partido da oposição chamou a comunicação social à sua sede, para ouvir o seu Secretário-Geral ler um comunicado em nome da comissão política, completamente desproporcionado nas supostas razões, descabido e vazio de conteúdo, em jeito de compensação da utilização do tempo de antena que o Governo tinha tido ao longo do dia, com a realização do Congresso das Exportações em Santa Maria da Feira.

O PSD, com as legítimas aspirações que tem a formar o próximo Governo, não pode agir da forma como o fez hoje. O Congresso das Exportações pode ter tido a sua (habitual) dose de propaganda governamental mas, ninguém pode ignorar, que foi um encontro importante do mundo empresarial português.

O sentido de Estado não pode ser mera retórica. O PSD, mesmo na oposição, para merecer a confiança da maioria dos portugueses, tem de ser melhor que o PS. Tomando este tipo de atitudes não vai lá e, pior do que isso, lança mais descrença na população. O desespero de muita gente, é estar descontente com o Governo e não acreditar nas alternativas existentes.

Será que o PSD quer enfiar a carapuça?

Silvestre Félix

OUTRO LADO DO ATLÂNTICO

Do outro lado do Atlântico, da querida cidade do Rio de Janeiro, vem um exemplo maior de solidariedade.

Após a destruição, pelas chamas de um implacável incêndio, das instalações e do recheio de três das principais “Escolas de Samba” que dão corpo ao maior e mais admirado espetáculo no mundo, o Carnaval do Rio, gerou-se, de imediato, uma onda solidária das restantes “Escolas”, que, poucas horas depois da desgraça, se reuniram e assumiram a responsabilidade coletiva de recuperarem, nestes 29 dias que faltam para o desfile, a representação com dignidade das “adversárias” atingidas pelo desastre.

O exemplo retrata bem o saudável espírito competitivo do desfile das Escolas de Samba, em cada Carnaval, na cidade maravilhosa. Os Cariocas podem não se dar conta, mas eles são únicos e, para quem ainda tinha dúvidas, aí está a prova.

Silvestre Félix

PRECISA DE ALGUMA COISA?

A corrida lenta e certa desde o alto do frasco até às entranhas marca a cadência das aproximações entre a vida, a dor ou a anestesia. O recobro é o início duma caminhada sempre longa e muitas vezes penosa, de tanto exigente.

A batida do monitor insistente e motivador da aproximação do cuidador, atravessa o sono de embriaguez química e cansada. Precisa de alguma coisa? As palavras soam como badaladas de sinos de altas igrejas que inundam campos tão coloridos, como bonitas telas pintadas de propósito.

O fio mais cumprido é a campainha. Se precisar de alguma coisa é só carregar!
Se fosse silêncio de noite, não se ouvia o terrim…terrim… das campainhas e do telefone. Os sonhos atravessam a noite sem limite. Os gemidos e os chamamentos e os “precisa de alguma coisa?” também entram nos sonhos…sonhos com velocidade e sem reduções.

Pela frincha da janela entra finalmente a claridade da manhã e eu sonhei e eu acordei!

Silvestre Félix

É DEFEITO OU FEITIO?

Na passada 5ª Feira, na Quadratura do Círculo, ouvi a Dra Manuela Ferreira Leite dizer que a questão do número de Deputados é um “bluf” e só foi lançada para desviar os portugueses do que é essencial.

Um dos títulos do Sol Online faz saber, que o Secretário-Geral do Partido Comunista Português afirmou que a polémica com Deputados é “tentativa de desviar as atenções”.

Digo eu, até parece que são escassos os problemas, assuntos e matérias, para, vai-não-vai, vir um político, deputado ou não, falar daquilo que Jorge Lacão pensa.

É defeito ou feitio?

Ou vício?

Silvestre Félix

UM VEZ NA UNIÃO EUROPEIA, QUE SEJA PARA VALER!

Assim, como tem estado, não vale a pena e tem o fim anunciado.

O Conselho desta semana decorreu, mais uma vez, sob a pressão Franco-Alemã. No entanto, agora, parece-me que alguma coisa mudou naquelas mentes impositivas de Merkel e Sarkosy.

Muito embora o meio e forma de levar a “deles avante” não seja a mais correta, as ideias de maior integração política e maior coordenação económica, incluindo a institucionalização da tendência duma desejável harmonização fiscal, como contrapartida para o necessário aumento de fundos do “Fundo de Estabilidade do Euro”, são positivas. Não se compreende, por exemplo, que haja Países da UE onde as reformas se vencem por inteiro aos 67 anos, e outros aos 60 ou 62 anos. Da mesma forma não pode ser pacífico que a haja Países com IRC a 12 ou 15% e outros a 25 ou 30%. Como se pode desejar atingir a igualdade de benefícios e deveres em toda a Europa, antes de se corrigirem todas as premissas divergentes?

Se isto é o “Pacto de Competitividade e Convergência” que os dois propõem, estou de acordo.

Uma outra medida, mais ou menos anunciada, é a realização de cimeiras autónomas dos 17 membros do Euro. A primeira será já em Março, antes do previsto próximo Conselho. Não tem lógica nem é saudável, que Países fora do Euro tenham tantas palavras a dizer sobre a moeda, como os outros que estão lá dentro. Para já, parece-me fazer cada vez menos sentido, haver membros da UE não aderentes à moeda única. Não me espanta que o “diretório” venha, a curto prazo, a impor aos membros que têm outras moedas, com destaque para a Inglaterra, que formulem a intenção de adesão e que acertem a respetiva calendarização.

Pelo que fui lendo e ouvindo desde ontem sobre o assunto, há mais de dois anos que, na UE, não se trabalhava com tanta objetividade.

Penso que o Governo português esteve bem, avaliando, obviamente, as declarações feitas.

Relativamente ao futuro da União Europeia, estou um bocadinho menos pessimista!

Silvestre Félix

4 DE FEVEREIRO

Com o assalto à prisão de S. Paulo em Luanda, durante a madrugada de 4 de Fevereiro de 1961 – fez nesta Sexta-feira 50 anos – e a consequente libertação de presos políticos ali detidos pelo regime colonial, tem, para todos os efeitos, início, a Guerra Colonial. A ação foi reivindicada pelo MPLA e resulta na morte de alguns polícias e do corpo assaltante.

Salazar, ainda mal refeito com o desvio do paquete Santa Maria, perpetrado pelo Capitão Henrique Galvão e com grande impacto em Portugal e no estrangeiro, preferiu continuar a assobiar para o lado e, na onda do “orgulhosamente só”, ignora todos os avisos, ignora a história e a comunidade internacional, decidindo lançar as forças vivas do País numa Guerra fratricida, dada a afinidade irmanada de tantos séculos de convívio com as populações africanas. Guerra injusta para os africanos e para os portugueses mas, para Salazar, a permanência no poder e em ditadura, era mais importante do que os valores progressistas e humanistas.

A pressão contra o regime de ditadura e colonial português aumenta, com o Conselho de Segurança das Nações Unidas a aprovar moções contra Portugal e, a 15 de Março do mesmo ano de 1961, um grupo de guerrilheiros da UPA de Holden Roberto, começa a atacar fazendas e postos administrativos no norte de Angola. Definitivamente, instalava-se a Guerra. O regime colonial continuava a não dar mostras de querer negociar com os Movimentos de Libertação. Refira-se que, nesta fase, Portugal mantinha-se como último País europeu com colónias em África. Todos os outros: Inglaterra, França, Alemanha e Bélgica, após o fim da Segunda Guerra Mundial, começaram a negociar as independências das suas colónias e, em 1961, (exceção para a Argélia, com outros contornos e em Guerra com a França, só seria independente em 1962) já eram novos Países ou estavam em vias disso.

Salazar, depois de se livrar dos opositores em Portugal, com a PIDE mais ativa do que nunca e a desmantelar o golpe do “reformista” de regime, Botelho Moniz, continua a não perceber a história e, no famoso discurso à Nação em Abril de 1961, no que respeita à Guerra Colonial, só tem uma coisa para dizer: «Para Angola, rapidamente e em força».

Resultado instantâneo desta ordem do ditador: Regimentos completos de militares são mobilizados para combater os Movimentos de Libertação em Angola e, nos anos seguintes, na Guiné e Cabo Verde, Moçambique e em Timor. Estava em marcha a maior “negação” da história, de que há memória.

4 de Fevereiro de 1961 é marcante para os angolanos, para os PALOP’s e para todo o continente africano, mas também para os portugueses.

Foi o início do virar da página colonial. Foi o começo do fim da ditadura em Portugal.

Na coluna do crédito, fica a haver um preço muito alto pago por todos os povos que sofreram pelos erros dos nossos governantes.

Silvestre Félix

INSÓLITO, OU NÃO?

1 – O Ministro dos Assuntos Parlamentares arranjou lenha para se queimar. Manifestou a sua simpatia pela redução do número de Deputados na Assembleia da República e os seus correligionários caíram-lhe todos em cima. Pois claro, menos “jobs for the boys”!

2 – Com a eficácia e credibilidade que a Justiça (não) tem neste País, será que o ministério Público consegue pôr na ordem a Federação Portuguesa de Futebol? Como é que menos de 30% de representação na Assembleia, com a Associação de Futebol do Porto à frente, conseguem perpetuar tamanha ilegalidade?

3 – Fazendo jus à fama junto dos cidadãos, de tudo o que é, ou tem a ver com Justiça, o Ministério Público tratou de acusar o queixoso Ricardo Sá Fernandes por ter cumprido o seu dever cívico de denúncia de ato ilícito.

Silvestre Félix

ESTALAGEM DE MOBILIÁRIO BRANCO

“Na estalagem de mobiliário branco, cortado, aqui e ali, pelo tom prata da moda”, a vida corre com sofrimento mas também com devoção e esperança.

O toque cadenciado dos monitores, um atrás do outro, embalam o sono engajado na dor e nas idas aos patamares alucinados. As imagens constantes, bem arrumadinhas em quadradinhos bem nítidos, com falas sugestionando o bem ou o mal. Quando bem, acende a ansiedade para entender duma forma racional, que mensagens os quadradinhos me transmitem. Quando mal, provocam um misto de raiva e medo e é manifesta a impotência para os retirar da zona abrangente do meu alucinogénico sono.

“Na estalagem de mobiliário branco, cortado, aqui e ali, pelo tom prata da moda”, os anjos não dormem. São eles ou elas, não importa, porque anjos não têm sexo, só têm bata branca. Não descansam e estão sempre cuidadores junto à cama. O gemido, o grito, o pedido, a negação. Os anjos não precisam de manual, sabem de cor os significados e nunca dormem. Religiosidade à parte, abençoados os anjos de bata branca que sempre lá estiveram.

No “modo” de observador, em fase mais consciente e pela experiência das várias estadias “na estalagem de mobiliário branco, cortado, aqui e ali, pelo tom prata da moda” a capacidade de interpretação do que vai acontecendo à minha volta, aumenta desmedidamente, e enfraquece a sensação de debilidade. Estou forte! E, na outra cama, o sofrimento é agudo. “Calma, é assim mesmo. Tem de acreditar e ter coragem” – Consigo passar a ideia mas duvido do efeito. A perturbação, o medo, o terror, não tem limite. Diz ele: “Não, não quero! Vão pôr no soro e eu fico a dormir e depois cortam-me… Não, não deixo, não quero!” A expressão facial e corporal não disfarça o pânico. As de bata branca, com aconchego carinhoso e palavras macias de psicologia simples de anjo sem sexo, controlam o desarranjo mental.

“Na estalagem de mobiliário branco, cortado, aqui e ali, pelo tom prata da moda”, perto da minha casa, moram anjos de bata branca sem sexo.

Silvestre Félix

OBRIGAÇÕES DO ESTADO

Dizer assim, a seco, sem espinhas, que as “empresas do setor empresarial do Estado que dêem prejuízo, devem ser extintas”, é mau demais para terem sido ditas pelo líder do maior partido da oposição.

Penso não existir ninguém neste País, que discorde da necessidade urgente de implementar uma grande reforma do Estado e particularmente deste setor. Isso é uma coisa, agora, manifestar o desejo de cortar a direito sem entrar em linha de conta com a especificidade de cada empresa, não fica bem a PPC nem a ninguém.

As empresas a que nas entrelinhas se referia eram as dos transportes. Bom, admitindo que existirá má gestão nalguma e que é indiscutível a vantagem da privatização de outras, todas as decisões têm de passar pela abrangência do todo nacional.

Para garantir o equilíbrio do território nacional, ou pelo menos, para evitar que a inclinação discriminatória aumente, é aconselhado bom senso e sentido de estado.

Existem obrigações de que o Estado não pode abdicar, esteja no poder um governo de esquerda do centro ou de direita.

Portanto, Dr. Passos Coelho, não lhe fuja o discurso para o demasiado simples, porque pode vir a ser chamado a lugares de mais responsabilidade, e depois, como fica?

Silvestre Félix

PORQUE NÃO SE CALAM?

PORQUE NÃO SE CALAM? São praticamente os mesmos, que há menos de dois meses, bradavam “aos céus” por medidas mais restritivas, fortes e ...