RECICLAGEM DÁ MULTA



A Ericeira hoje não é só “onde o mar é mais azul”, é um local que dá gosto visitar e ainda mais viver, porque, de há uns anos para cá, tudo o que é limpeza, organização de circulação principalmente para peões, e tudo o resto que não se vê à vista desarmada e que tem a ver com todo o trabalho de reciclagem das mais variadas coisas, desde o que chamamos de lixo, até aos protocolos que a Junta de Freguesia foi assinando com pequenas empresas, cafés e restaurantes para recolha dos seus resíduos.

Ora, aqui é que está a coisa, no Diário de Notícias de ontem, li que a Junta de Freguesia da Ericeira foi multada pelo “fisco” em 8.000 Euros, por fuga ao pagamento de impostos devidos na aquisição de combustíveis, uma vez que a citada Entidade faz a reciclagem do óleo usado nos restaurantes, e muito bem digo eu, e utiliza esse bio-diesel na viatura de recolha de lixo, contribuindo duma forma honesta e verdadeira para a conservação do nosso planeta, ajudando também no equilíbrio do seu orçamento.

Será possível imaginar a nível Nacional, se todas as Juntas de Freguesia tivessem a mesma atitude no que respeita à reciclagem do óleo e de todas as outras coisas recicláveis? Eu acho que seria uma autêntica revolução e, se calhar, não havia “fisco” que chegasse para fazerem o que fizeram à J.F. da Ericeira.

Penso que o Primeiro Ministro deve ter posto as mãos à cabeça quando se apercebeu deste zelo caricato, mas….

Parabéns Senhor Presidente da Junta de Freguesia da Ericeira pela sua OBRA!

25 DE ABRIL DE 1974

(De: Sophia Mello Breyner)


Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo



NUNCA MAIS FOI NECESSÁRIO ESCONDER O JORNAL "REPÚBLICA"


Vamos fazer o caminho habitual, até agora não vi tropa nenhuma. Ali no Largo do Carmo estava um tipo a dizer que desde o Rossio até ao Terreiro do Paço estava tudo ocupado por Militares da Revolução e que não deixavam passar ninguém. É pá, até tenho as pernas a tremer, vamos descer a rua do Alecrim e depois lá em baixo logo se vê. Então e já reparaste nas pessoas que estão a fazer o trajecto ao contrário, os comboios em vez de deixarem pessoas estão a levá-las de volta. Bom, então vamos para baixo.

Daqui consigo ver a Rua do Arsenal até ao Terreiro do Paço. Só vejo capacetes de militares, mas… espera, estão a vir na nossa direcção, e as pessoas estão a vir também, o melhor é entrarmos no prédio, sempre estamos resguardados e dá para percebermos depois que tropas são estas. Eu cá não tenho dúvidas, o que ouvi no rádio antes de sair de casa dava para perceber que a tropa revoltada é de esquerda… embora a gente não saiba se estes são do lado do Governo ou não, por isso é melhor entrarmos e só saímos depois de termos certezas.

Saímos do prédio e diz o militar com ar sorridente, podem ir com cuidado subindo a rua do Alecrim, mas depois vão para casa. Era o que queríamos ouvir, subimos a rua do Alecrim até ao Chiado e percebemos que ali também já havia tropa, mas a confusão ainda era grande, havia muitos PSP’s, e começava a ver-se alguma tropa na entrada da rua António Maria Cardoso que era a sede da PIDE.

Nalguns sítios, mais junto às paragens dos eléctricos começavam a juntar-se bastantes pessoas, e comecei a ouvir alguns gritos eufóricos. Lembro-me do primeiro “Morte à PIDE!”. Este tipo de comportamento foi fazendo com que as pessoas se sentissem mais à vontade e logo a seguir “Abaixo o Governo de Caetano!”.

Isto já faltaria pouco para o meio-dia, e cada vez havia mais pessoas, e já não me lembro bem como, começamos a andar na direcção do Largo Carmo que já estava cheio de gente e militares, assim tudo misturado. A GNR tinha os portões todos fechados e alguns tropas tinham cravos nas orelhas e no cano das G3. Todos os militares estavam sorridentes, nem pareciam que estavam armados. Oh Vicente, o que é que tu achas? Estão a dizer que o Marcelo Caetano está aqui no quartel, será? Mas, o que é certo é que os militares estavam todos virados para o quartel e andam Sargentos ou Furriéis entre um Capitão e os Soldados.

A bifana estava boa como era costume e a algazarra era grande, e cada vez havia mais gritos que começavam a transformar-se em palavras de ordem; Viva o Movimento das Forças Armadas! Viva Portugal! Abaixo a Guerra d’África!

O tempo passou muito depressa, sem perceber como, também já estava comigo, para além do Vicente, o Carlos Alberto.

Depois de alguns avisos gritados por megafone, de que abririam o portão à força, se não deixassem o Capitão entrar para receber a rendição do Prof Marcelo Caetano, foram disparados vários tiros de G3 para a frontaria do Quartel, com o pessoal a correr a esconder-se por todo o lado. Rapidamente voltou tudo ao mesmo até que pelas seis da tarde chegou o Spínola que entrou no quartel saindo pouco depois, e entretanto estava um blindado “Chaimite” junto ao portão, que disseram depois terá levado dali o Prof Marcelo Caetano e mais Ministros do Governo deposto.

Viva o Movimento das Forças Armadas! Abaixo a Pide! Viva Portugal!


CONSEGUI COMPRAR A 3ª EDIÇÃO DO JORNAL “REPÚBLICA” DESTE DIA 25 DE ABRIL DE 1974 E NÃO FOI PRECISO BOBRA-LO AO CONTRÁRIO PARA QUE NÃO SE PERCEBESSE QUE ERA O “REPÚBLICA”. A PIDE ESTAVA SEMPRE ATENTA.

NUNCA MAIS PRECISEI DE ESCONDER O “REPÚBLICA”,

NUNCA MAIS PRECISEI QUE FORRAR OS LIVROS LIDOS NO COMBOIO,


NUNCA MAIS PRECISEI DE OLHAR EM VOLTA PARA ME CERTIFICAR DE NÃO HAVER ALGUM PIDE QUANDO FALAVA DA GUERRA COM OS MEUS AMIGOS,

NUNCA MAIS PRECISEI DE FALAR BAIXINHO PARA EVITAR QUE ALGUM BUFO OUVISSE A CONVERSA,


NUNCA MAIS PRECISEI DE TER MEDO DE IR PARA A TROPA,

NUNCA MAIS TIVE MEDO DE IR PARA A GUERRA,

NUNCA MAIS TIVE MEDO DE SER PORTUGUÊS,

VIVA O 25 DE ABRIL SEMPRE!

(Fotos da galeria de Eduardo Gageiro)


JANTAR EM SINTRA



A Nossa Terra teima em acolher acontecimentos históricos Nacionais que marcam, como se destino traçado se tratasse, a nossa vida. O local escolhido não foi o Palácio da Vila, nem o Palácio Valenças, nem qualquer outro dos muitos que temos, mas sim uma tenda gigante daquelas que se costumam usar no copo de água de um dos muitos casamentos que se realizam dentro e nos arrabaldes das nossas muralhas. “Casamento”, para quem não se lembre ou não saiba mesmo o que é, trata-se de um contrato com papéis assinados por dois contraentes e respectivas testemunhas, antecedido por ritual com juras de amor eterno e todos os outros sentimentos parecidos e que, duma forma geral, algum tempo depois, não muito, dá lugar a um outro ritual denominado “divórcio”, onde se desfaz tudo o que se fez no casamento. Esta aprendizagem do “diz” e “desdiz” logo a seguir, é feita com muita eficácia, em estágios preparados ao pormenor para o efeito, por muitos políticos da nossa “praça”.

Este esclarecimento sobre o “casamento” era importante porque, ainda por cima agora com o novo acordo ortográfico, muita gente ainda não conhece o significado desta palavra.


Voltando à questão principal, ou seja, o acontecimento histórico Nacional que esta semana teve lugar em Sintra, é notória a influência dramática Queirosiana nas cenas daquele jantar de despedida já anunciada, e que, mesmo assim, deu direito de antena para todas as televisões em sinal aberto e fechado, decerto porque estavam a transmitir duma tenda (no meu tempo chama-se barraca) montada em Sintra.


Não me apercebi da ementa, mas qualquer que fosse, muitos dos comensais, tiveram com certeza dificuldade em engolir o prato principal, para já não falar na sobremesa. Enfim, cada um vai aos jantares que quer e come daquilo que gosta.

Da tenda (barraca), do jantar e da despedida, recordarão, daqui a muitos anos, os nossos descendentes Sintrenses, como hoje se recorda a leitura dos “Lusíadas” por Camões a El-Rei D. Sebastião.

MANUEL CARVALHO DA SILVA


A contestação que os sindicatos dos Professores vinham fazendo a propósito do plano de avaliações proposto pelo Ministério da Educação, estava prestes a resvalar num poço sem fundo, com consequências imprevisíveis.

A solução, finalmente encontrada e assumida com assinatura de protocolo de entendimento esta semana, veio pôr fim, pelo menos por agora, a todo o ambiente instável que estava a fazer perigar o bom andamento e final dos anos lectivos, prejudicando acima de tudo, os alunos.

Como é hoje escrito no “Expresso”, o nó, foi desatado por pessoas de bom senso, e, entre elas, lá estava o indispensável Manuel Carvalho da Silva. Foram feitos muitos contactos no interior do Governo, com muito protagonismo do Ministro do Trabalho Vieira da Silva, mas a peça nuclear foi, mais uma vez, Manuel Carvalho da Silva.

No panorama Político Nacional, e, no que respeita aos seus representantes, andamos muito por baixo, sendo os acontecimentos desta semana bom exemplo disso, e, necessariamente, é preciso destacar um Homem como este porque, pelo menos no tipo de intervenção que vem tendo, é diferente dos outros todos e transmite toda a confiança do mundo.

CURA EM CUBA



Embora seja difícil acreditar mas é verdade, que algumas Câmaras Municipais do nosso País estão a patrocinar e até a organizar excursões de doentes oftalmológicos a Cuba, sim, isso mesmo, Cuba do Fidel Castro.

Um País com tantas carências e tão avançado do ponto de vista de tratamento e equipamento para assistência na doença.
Nesta especialidade como noutras, têm um conhecimento e uma organização completamente eficaz. Por exemplo, numa excursão de cem doentes, como vem esta semana na revista do Expresso “Única”, ao terceiro dia após a chegada a Havana, já estão a ser operados, pelo menos os casos mais simples como as cataratas.

Senhores que mandam nesta vertente do nosso SNS, aprendam e ponham os nossos idosos a ver outra vez.

HOSPITAL FERNANDO DA FONSECA



Estou preocupado com a mudança da gestão do Hospital Amadora - Sintra a partir de 1 de Janeiro de 2009. Sou utente daquela unidade desde que há três anos lá fui parar à urgência, e sei como funciona bem agora, depois, não sabemos.

A gestão privada está até 31 de Dezembro de 2008, no dia seguinte a gestão é do Estado mas o Hospital não para, os doentes continuam a entrar, os actos médicos continuam a ser feitos, mas como será ? Embora o quadro de pessoal faça a transição, não é seguro que não se confirme a tendência que nos últimos tempos se vem verificando nos Hospitais do Estado, os melhores Médicos e Enfermeiros começarem a passar para os Hospitais privados.

Entretanto Sintra continua sem perspectiva nenhuma de vir a ter um Hospital público com gestão privada ou do Estado, nos próximos anos. Chegamos a ouvir falar em várias soluções mas, Hospital é que não há. O segundo maior Concelho do País não tem nem vai ter nos próximos tempos um Hospital, e os seus habitantes lá têm que ir para a Amadora, para Cascais e sabe-se lá para mais onde.

Voltando ao Amadora – Sintra, tenho que dizer o melhor. Fui, e continuo a ser muito bem tratado. Referindo-me ao pessoal duma forma geral, tenho exemplos de grande humanidade, até aumentei a minha colecção de amigos. Pela minha parte sou um forte defensor do Hospital e do seu pessoal.

A ÁGUA COM GÁS


Já repararam bem no anúncio de televisão duma água com gás, em os trabalhadores da linha de enchimento, os carregadores, os caracterizadores, os motoristas e por aí fora, são animais?

Acho este trabalho simplesmente genial!

A ideia, a execução e a perfeição da montagem são dignos dos maiores elogios. Eu já gostava e era cliente desta água, mas desde que o anúncio passa, fiquei ainda mais admirador do produto.

As coisas boas e ainda por cima nossas devem ser reconhecidas e elogiadas.

A NOSSA SERRA


“Não tires o boné que o sol já está quente!” Dizia a minha Mãe enquanto os meus pequenos passos venciam a caminhada nas primeiras horas daquela manhã. Na Av Conde de Sucena em S. Pedro a Lenda dos Dois Irmãos à esquerda, naquela época era assim e as perguntas que eu fazia como outros putos de sete ou oito anos. E a minha Mãe contava a história. Fim de Verão e os ouriços das castanhas como tapete verde que eu pegava e tentava esventra-los.

A Prima florista no Fetal e logo subindo para descer até à Vila. A minha Mãe aprendeu a ler ali pelos idos 1920/21 com as freiras antes de se curvar para a fonte da sabuga. Encanto da Vila, e pára e cumprimenta e fala outra vez e conhece mais e o hospital com as escadinhas sitio do nascimento da minha Mãe, mesmo ali naquela porta. Anda, vamos que agora é um instante. E eu ia caminhando sempre pela sua mão de frente para o Central e á direita da Piriquita e lá mais à frente pela direita a Quinta do Roma e se descesse a Quinta da Cabeça de más lembranças da minha Mãe que trabalhou e a fruta e o meu Avô, más lembranças. Agora sempre subindo pelo Palácio do milhões, agora Regaleira, Seteais com história da lenda das sete mulheres presas na parede e que gritaram até morrer. A minha Mãe contava e eu perguntava sempre até à bica na esquerda depois do arco com o caminho para a Tapada à vista.

O caminho de terra batida levava-nos à casa da Serra. O cheio intenso a café de cafeteira e pão fresco. A minha Avó, a minha Tia, os cães e gatos e patos e galinhas, a água fresca a correr e as Camélias, muitas Camélias por todo o lado. O fumo permanente que saía da chaminé e lá dentro o fogão a lenha com aqueles dourados brilhantes. A mesa enorme para quinze lugares e a minha Avó lá estava sempre alegre e bem disposta. Verde e todas as cores.

Oh Mãe vamos à Serra?? Sim Filho vamos! E eu ficava muito feliz, era assim uma felicidade sem fim… Naquela casa, a natureza, a beleza da nossa Serra.

MAPUTO - 1983/86


Pela vidraça da ampla sala do meu apartamento no oitavo andar na cidade de Maputo, conseguia ver uma parte considerável da parte mais baixa em direcção à baía.

Naquele princípio de noite o espectáculo era deslumbrante: Misturados com o ribombar dos trovões, os raios e faíscas cruzavam o meu ângulo de visão como se as vidraças da minha sala fossem um ecran de plateia completa em noite de estreia num dos cinemas daquela Capital Africana maravilhosa. O cheiro a enxofre invade o ar roubando o doce aroma das acácias bem plantadas nas ruas e avenidas perpendiculares e paralelas, que seguem sempre, sempre sem nunca parar antes de chegar à Julius Nyerere.

A esplanada do Piri - Piri à volta da cerveja de copo com camarão e o frango à Piri – Piri é único. Não quero mais estatuetas, são muitas e cada uma mais bonita, e depois como é difícil tomar a decisão. Mas frango de crescer água na boca em Marracuene com o Incomati lá em baixo com pressa de chegar à Baía na borda da Costa do Sol que é a costa e as praias mas também sítio de romaria gastronómica do Grego que serve camarões diferentes de todos os outros sítios.

Carreguei camarão fresco no porta – bagagem” O quê ? quanto ? “dois quilo patrão” Por favor não me chames patrão que eu não sou teu patrão, só sou dos empregados que tenho lá em casa. “Más tu paga sempre pa lava o teu carro, po isso é patrão, e bom que paga bem” Ok, então quanto são os camarões? “ vinte pau patrão” Está bem, toma lá vinte e cinco!

Samora Machel fala, dança e canta, sempre em três ou quatro dialectos locais. A praça fronteira ao Palácio do Conselho Executivo da Cidade estava repleta de Moçambicanos e outros, como eu. Papai Samora falou, falou, era manhã e depois já era de tarde e em casa, onde já estava, ainda ouvia no rádio de pilhas o discurso infindável de Samora. Eles não arredavam e era Papai Samora.

“O avião que transportava o Presidente de Moçambique Samora Machel que regressava a Maputo, despenhou-se perto da fronteira com a África do Sul. Corre a notícia que o Presidente e outros membros do Governo que o acompanhavam, morreram neste desastre”. Sete horas da manhã em Portugal e acordei com a notícia. Queria ter estado em Moçambique neste dia. Os meus Amigos Moçambicanos estavam lá e sofreram.

A Vida continuou!

ZIMBABUÉ


As últimas notícias do Zimbabué dão conta de que a polícia invadiu as instalações do partido da oposição a Mugabe.

Há 26 anos quando cheguei a Moçambique pela primeira vez, ainda Samora Machel era vivo, o vizinho Zimbabué, já com Mugabe no poder, fazia inveja a todos os vizinhos pelos níveis de desenvolvimento que tinha.
A passagem do regime de Ian Smith da antiga Rodésia para o então moderno Zimbabué, tinha-se feito duma forma pacífica e tudo aquilo que se produzia, principalmente a nível agrícola, tinha taxas de crescimento incríveis. Por exemplo, lembro-me que uma das marcas de tabaco que mais havia naquela altura em Maputo, era do vizinho Zimbabué.

Como é que este antigo professor do ensino secundário se transformou no que é hoje? Como é que destruiu um País que era dos mais desenvolvidos no continente?

Esta semana houve uma lufada de esperança que as coisas pudessem mudar, mas parece que não vai ser para já, quanto tempo mais??

PORQUE NÃO SE CALAM?

PORQUE NÃO SE CALAM? São praticamente os mesmos, que há menos de dois meses, bradavam “aos céus” por medidas mais restritivas, fortes e ...