“Pingo” de universo!
……………
Mas o Dono da Tabacaria
chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o
desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da
alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu
morrerei.
Ele deixará a tabuleta,
e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá
a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura
morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram
escritos os versos.
Morrerá depois o
planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de
outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo
coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa
defronte da outra,
Sempre uma coisa tão
inútil como a outra,
Sempre o impossível tão
estúpido como real,
Sempre o mistério do
fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre
outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
………………..
Extrato da “Tabacaria” de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
Tudo é efémero!
Silvestre Félix
14.11.2016
Tag: Lua Cheia
Foto: DN Online
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