Alma minha gentil, que te partiste - Tão cedo desta vida, descontente, - Repousa lá no Céu eternamente - E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste, - Memória desta vida se consente, - Não te esqueças daquele amor ardente - Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te - Alguma cousa a dor que me ficou - Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou, - Que tão cedo de cá me leve a ver-te, - Quão cedo de meus olhos te levou.
Luís Vaz de Camões, pode ter nascido em 1524 ou 1525 ou ainda noutro ano diferente. O local, também é, “provavelmente”, Lisboa.
Também não há certezas absolutas em relação à data exacta da sua morte mas, a história, regista o dia 10 de Junho de 1580. O túmulo de Camões encontra-se no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa.
O soneto acima - alma minha gentil - é dos mais conhecidos da “Obra - Lírica” a par de outros como; Amor é um fogo que arde sem se ver, verdes são os campos e mudam-se os tempos mudam-se as vontades.
Nas suas andanças com o seu desassossego, perdeu um olho em Ceuta entre 1545 e 1550. Regressa a Portugal, e das constantes brigas, convívio com rufias, boémia e juras de fidelidade a virgens enganadas, resultou a necessidade de voltar a sair pela barra do Tejo em direcção à Índia para conseguir o perdão do Rei e também por necessidade psicológica.
Nesta viagem, iniciada no princípio de 1553, percorreu todo o império português desde a costa ocidental e oriental de África, golfo pérsico, Índia, todo oriente até Macau. No meio passou por um naufrágio na costa da Indochina, onde se diz ter morrido uma “moça china” de nome Dinamene que ele amava. Também se conta que, neste desastre, Camões conseguiu salvar os manuscritos da sua obra quase por milagre. A sua poesia lírica e épica é um retrato desta sua viagem, incluindo todos as vivências, aventuras, perigos, amores, conquistas, mortes, com detalhes dos locais e percursos efectuados.
Com muita dificuldade e sem dinheiro, regressa a Portugal em 1569, conseguindo a publicação de “Os Lusíadas” e a famosa tença de 15.000 réis anuais que D. Sebastião resolveu atribuir-lhe.
A estância mais conhecida de “Os Lusíadas” será a um do canto primeiro (As armas e os Barões assinalados – Que, da Ocidental praia Lusitana, - Por mares nunca dantes navegados …), mas, por razões que se adivinham, vou transcrever a estância 56 do canto terceiro (A estas nobres vilas submetidas – Ajunta também Mafra, em pouco espaço, - E, nas serras da Lua conhecidas, - Subjuga a fria Sintra o duro braço; - Sintra, onde as Náiades, escondidas – Nas fontes, vão fugindo ao doce laço – Onde Amor as enreda brandamente, Nas águas acendendo fogo ardente.
SBF
(Ajuda: Luís de Camões – Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses)
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