CENSURA


A livraria era pequenina tal e qual a rua que ainda hoje se chama Bernardino Costa. Vai do Largo do Corpo Santo até à Praça Duque da Terceira (vulgo, Cais Sodré).

Mesmo com pide e censura à perna (dos livreiros), lá conseguia alguns livros interessantes, principalmente de poesia.

O outro livreiro que me batia à porta (no emprego), uma vez, apareceu-me com uma caixa que tinha dentro 12 volumes, tipo “de bolso” pró grande, com a “História da Filosofia” da Editorial Presença, edição de 1970, com a dica de “censurado”, ou seja, proibido. O Preço não me lembra, mas era para pagar em prestações. Acho que corria o ano de 1972, ano em que se sentia um reforço na repressão por parte da pide, naquela altura chamada DGS - Direcção Geral de Segurança, e especialmente em tudo o que era; Imprensa, rádio e livros.

Oh Senhor Francisco, eu até gostava de ficar com os livros, mas como é que faço para os ler no comboio?

"Não há problema, o livro que trouxeres para ler, forras com papel que tenha fotografias ou desenhos, assim como se fosse a capa verdadeira, e nunca baixes muito o livro, porque quem vem sentado ao teu lado pode ser pide ou bufo, ler o texto, perceber que livro é e arranjar-te sarilhos. Em casa, não os ponhas numa estante, deixa-os estar na caixa e guarda-os num sítio que não dê nas vistas. Mais importante que tudo, nunca digas a ninguém que tens esta colecção em casa. Um bufo pode estar mesmo ao nosso lado todos os dias e a gente não sabe."

Às vezes, lia estes e outros livros no comboio, tinha medo e até 25 de Abril de 1974, no nosso país, foi assim.

SBF

(Foto: Capa do X volume da colecção referida)

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