O PARQUE DO AMOR



A passagem era pelas escadinhas das Murtas, demorávamos o mais possível porque era uma boa maneira de ninguém nos pôr a vista em cima durante um bom bocado. Íamos descendo devagarinho até chegarmos cá abaixo à Volta do Duche, na entrada do parque da Liberdade, que naquele tempo não havia, e (o parque) se chamava de Salazar.

Conhecíamos todos os cantos do parque, e o romantismo dominava-nos em ponto a juventude que era a nossa. Ai … como aquela nublina sustentava o amor trocado em corpos ardentes e suspiros constantes, num recanto que até parecia preparado ao pormenor por muitos pares de namorados passantes.

O parque do Amor era fonte de inspiração para tardes dadas a paixões “queirozianas”, como se andássemos numa charrete de dois lugares por entre camélias e acácias sonhando com os mistérios de Sintra, descendo e subindo pelos caminhos da Serra e desembocando na Vila em frente ao Palácio.

Ela era a culpada de tamanhas façanhas, e eu, com ela, ia por todos os caminhos sem medo e seguro de que chegávamos lá. E sempre conseguimos chegar, até que, num dia de Primavera precoce, não chegamos. Não entendi à primeira nem à segunda, mas, à terceira percebi e fiquei a saber que as paixões são efémeras. Vão tão depressa como vêm!

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