OS POVOS EUROPEUS

«Os povos europeus já se esqueceram do que foram os anos trágicos de 1939-45?»


Pergunta Mário Soares na sua crónica do Diário de Notícias. Eu acho que sim e, essa amnésia, muito tem contribuído para a série de asneiras que os atuais dirigentes europeus têm protagonizado.


Realmente, boa parte deles ainda nem nascidos eram, portanto a guerra não lhes diz nada e, como de história também são fraquinhos, também desconhecem o facto de uma das principais motivações dos pais da União Europeia, ser a manutenção da paz no continente. O estabelecimento de tratados económicos e políticos entre as nações europeias eliminava, só por si, muitos dos pretextos antes utilizados para a eclodirem conflitos armados. Ainda com os escombros da Segunda Guerra Mundial bem à vista, os democratas e progressistas dirigentes, encetaram um caminho que sabiam difícil mas possível se assente em políticas que beneficiassem, acima de tudo, o bem-estar dos cidadãos.
Os Estados desenvolveram-se e evoluíram solidários, para uma Europa em que as preocupações sociais estavam em primeiro lugar. Entretanto as gerações de líderes foi mudando e, ao mesmo tempo, as políticas conservadoras, liberais e neo-liberais, foram tomando o poder em vários países. Esta tendência foi completada com os regimes vigentes nos últimos países a aderirem à UE. Quase todos libertados da esfera da antiga União Soviética com a queda do Muro de Berlim, têm no poder, na sua maioria, partidos e líderes conservadores e neo-liberais.
Os mandantes da União (?) Europeia, hoje, só têm preocupações economicistas. A Europa abandonou a matriz de cidadania europeia e a solidariedade entre países acabou. É tanto assim, que já se põe abertamente em causa uma das maiores conquistas dos povos europeus – a liberdade de circulação. A crescente influência, nalguns países e nas instituições da União (?), de partidos, políticos e governos adeptos dum conservadorismo xenófobo, vai marcando a triste realidade deste velho continente que, até a algum tempo atrás, era exemplo de progresso económico assente num projeto socialmente avançado.
Ao mesmo tempo, cegos pela caminhada ideológica sem freio, estes ultra-liberais vão-se deixando envolver nos tentáculos do grande polvo que tudo vai dominando. A crise financeira, económica e, ultimamente, a das dívidas soberanas, que correspondem à estratégica de ganância do poder financeiro especulativo, vai acabar por devorar a Europa. Pensam, alguns países e “líderes” europeus, que, com os trocos que os seus bancos vão ganhando à custa dos mais fracos, estão a salvo do polvo, mas estão enganados. As agências de rating não tardarão a fazer o seu trabalho, e, se deixarem que se chegue aí, está tudo acabado, a União (?) Europeia chega ao fim.


Silvestre Félix

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