ATÉ À OUTRA MARGEM

Daquela
Ver mapa maior'>janela do terceiro andar, adivinhava o reboliço do mercado da ribeira, para lá das águas furtadas do “Bensaude”, pela dos Remolares e até à da Ribeira Nova. Conseguia até sentir o cheiro das frutas, das flores, das hortaliças e principalmente do peixe fresco que na hora de almoço, virava “fresco na brasa”.

Pela janela do terceiro andar viajava de “cacilheiro” até à outra banda do petisco no cais de Cacilhas. Ia e vinha quantas vezes me apetecesse. No Tejo ainda navegava uma falua que no tempo ficou parada e muitas vezes contemplada.

Naquela janela do terceiro andar sonhei muitas vezes. Com os cotovelos naquele parapeito os sonhos eram sempre bons, não me lembro de nenhum pesadelo. O Sá Rodrigues ajudava, e também o Silva, e o Caparica, e o Vicente, e a Celeste, todos… todos… por isso ainda passeiam pelas lembranças boas da minha vida.

Pela janela daquele terceiro andar conseguia agarrar as energias boas e deitar fora as más. Em frente, pelas águas furtadas e telhados de estendais postos e cheios de roupa a secar, inventava os corpos que com elas se cobriam.

Daquela janela do terceiro andar, há tanto tempo contado em anos eu imaginava o tamanho do universo, e nós somos tão pequeninos…

SBF

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