Muito já se escreveu sobre os acontecimentos de 25 de Abril de 1974, inclusive, com a caneta de Otelo. No entanto, e pela grandeza das mudanças ocorridas em Portugal em consequência da ação levada a cabo pelo Movimento das Forças Armadas, muito ainda se escreverá porque a história é mesmo assim: Relatam os protagonistas e, mais tarde, os historiadores desenvolvem e muitas vezes até alteram o inicialmente dito e feito.
Neste caso, ninguém estará mais habilitado do que Otelo Saraiva de Carvalho para relatar, hora a hora, o que – depois de se ouvir na rádio a canção de Paulo de Carvalho “E depois do adeus” – foi acontecendo pela madrugada dentro.
Otelo recua à preparação do Movimento militar que havia de derrubar o regime, e depois, desde as vésperas, conta-nos tudo em pormenor: Os contactos diretos e por telefone, as notícias que iam tendo no Posto de Comando sobre o evoluir das operações, os sustos, as surpresas de última hora que punham em causa uma ou outra ação, os papéis que cada um deles desempenhava, a sua própria tarefa de coordenador das operações, enfim, tudo até às 20h do próprio dia 25, hora a que chegou ao Posto de Comando na Pontinha o General António de Spínola.
Neste livro, para além do relato do que foi acontecendo minuto a minuto, Otelo já vai, aqui e ali, fazendo comentários e considerações acerca de alguns dos intervenientes. Tanto pelo que já conhecia deles na altura, como pelo que fizeram nos dias, semanas e meses a seguir.
Quem quiser conhecer toda a movimentação militar que se materializou na revolução dos cravos com o consequente derrube do regime de ditadura, as causas que mobilizaram os Capitães a criar e a desenvolver o Movimento, não deixe de ler este livro. O autor comandou toda a operação a partir do Posto de Comando e era um dos membros da Comissão Executiva do Movimento das Forças Armadas.
Otelo Saraiva de Carvalho nasceu em Lourenço Marques, hoje Maputo, em Moçambique no ano de 1936. Fez várias comissões na Guerra Colonial e, depois do 25 de Abril, graduado em Brigadeiro, foi Comandante do COPCON e Comandante da Região Militar de Lisboa e fez parte do Conselho da Revolução. Conotado com a ala radical do MFA, chegou a ser preso depois do 25 de Novembro de 1975, tendo sido libertado pouco tempo depois. Já na reserva é candidato às presidenciais de 1976 e, uma segunda vez em 1980. Em 1984 volta a ser preso desta vez acusado de pertencer às FP-25, classificada como organização terrorista. Libertado cinco anos depois, Otelo continua a ser uma voz na sociedade portuguesa e, inquestionavelmente, uma referência da revolução de 25 de Abril de 1974.
É uma edição da “Objectiva” e a primeira em Março de 2011.
Silvestre Félix
(Imagem: Capa do livro digitalizada)
1 comentário:
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