ATÉ AO ROSSIO…

A mala abriu-se e lá rolou a laranja e a maça pela rua, e só pararam na linha do comboio. Os magotes, que já estavam colocados no sítio onde habitualmente paravam as portas no sentido do Rossio, riram-se da cena mas, a maior parte não viu de onde veio a fruta. Claro que eu disfarcei e fiz de conta que não era nada comigo.

Ainda em tempo da outra senhora IC 19 não era e, em vez, estrada Lisboa-Sintra com transito rolando. O andante de quatro rodas era quase luxo e lá iam os patrões, encarregados e afins. A força de trabalho enchia até à boca o comboio da linha de Sintra. Se empurrar já não dava, de poleiro na porta e vento na cara arriscando em segurança.

A sueca e a bisca, umas vezes lambida e outras a seco, lá encurtava a viagem na cabeça do balconista ou do escriturário. O fumo era tanto que, naquela manhã cedo, até parecia o nevoeiro entrando pelas janelas. O sono vencia, mesmo em pé, apertadinhos íamos baloiçando sem cair.

Risota e galhofa, Tonecas sempre até ao Rossio. Na saída, ninguém saía… mas porquê? Grande confusão e barulho de multidão. Tonecas e aventura fura e quer ver e vê, e vejo eu do lado dos Restauradores os de choque de cassetetes e viseiras e dois canhões de água com muita força. Do lado do Rossio praça, uma barreira de batinas negras resistiam mas recuavam.

Liberdade! Liberdade! Abaixo a guerra colonial! Abaixo! Eleições livres! Eleições Livres! Viva a Associação Académica! Viva!

A Liberdade chegou mais ou menos um ano depois.

SBF

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