O CABOUQUEIRO E A CIÊNCIA DA PEDRA

(Continuação – Ainda no tempo da ditadura do “botas” e da Guerra Colonial.)
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Pois é Coutinho que és Bernardino, o meu sobrinho sofre lá (na Guerra em Angola) e nós sofremos cá com a ausência dele, mas quem tem a culpa deste sofrimento todo, são os que mandam, mas ainda as vão pagar todas juntas. O tempo vai passar e voltar-se a nosso favor, já estou a ver o que vai acontecer…

Oh Caladinho, não me digas que também és bruxo? Como é que sabes o que vai acontecer lá p’ra diante?

Meu amigo Coutinho que és Bernardino (olhando na direcção do balcão e da porta e falando ainda mais baixinho), podemos continuar a conversa mas não aqui, é que as paredes têm ouvidos…

O quê, as paredes ouvem?

É isso mesmo… faz de conta, mas às vezes parece mesmo verdade.

Tá bem Caladinho, vens comigo até à pedreira do Ti Miguel, e contas tudo o que sabes para mim, e para os meus amigos que são de confiança.

Saindo pela esquerda, muito juntinhos à regueira da curva e de passo apressado porque, pelo barulho, lá vinha do lado da charneca, um andante com motor a botar fumo por tudo quanto é sítio, e, já no começo da rua para o olival, o Caladinho pára e espera pelo andante. O Caladinho era pessoa informada, e, por isso, era natural que quisesse ver o veículo motorizado.

(Continua)

(Extraído do escrito “O Cabouqueiro e a Ciência da Pedra” de Silvestre Félix)

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