ERA (É) UM MONSTRO

E ia cumprir o seu dever de cidadão participando em tarefas nas mesas das eleições democráticas.

Ele sentia um orgulho desmedido quando via o seu nome na lista dos elementos para a mesa. Não se importava de ser escrutinador, presidente ou até secretário. Era uma festa, os eleitores levavam frangos assados, bacalhau à gomes de Sá, bebidas, bolos e um sem número de iguarias.

O seu cargo na Junta de Freguesia era exercido depois do trabalho e nos fins-de-semana. Tinha direito a uma senha de presença em duas reuniões mensais do executivo. Pouco dinheiro e, mesmo assim, entregava-o todo ao partido. Mesmo ao serviço da Autarquia, andava no seu velho carro porque acreditava fazer parte da sua contribuição de cidadão para o desenvolvimento do País e para ajudar a melhorar a vida dos seus “fregueses”.

Acreditava no futuro dos homens e era otimista quanto ao País e na melhoria das condições de vida para os seus concidadãos.

Também era sonhador e, num desses sonhos, viu a catástrofe do futuro com mais de trinta anos contados desde esse dia:

Era um monstro que berrava e comia tudo que lhe pusessem a jeito. O monstro engordava a cada minuto e era adorado por um batalhão de “boys” com fatos cinzentos de corte de luxo, brutos e caros relógios de coleção, óculos escuros de aros dourados que, à medida que rodavam pelo monstro, se montavam em automóveis pretos de alta cilindrada saindo a voar e desaparecendo no céu com cores tempestuosas.

Num dos muitos enormes braços do monstro, conseguia ver, conforme os “neons” por cima, a presidência e vereação de câmaras municipais e executivo de junta de freguesia, da sua junta de freguesia. Tudo muito nítido e bem explicado e com os altos vencimentos indicados em placas presas a cada um, pelo pescoço.

Ele queria acordar porque não podia acreditar neste pesadelo, mas ainda não tinha visto tudo: Ao fim de três mandatos (12 anos), podiam requerer a reforma por inteiro. Cada vereador da câmara tinha carro e motorista e o quadro de pessoal tinha dez vezes mais pessoas. A sua junta de freguesia que, na sua época, tinha dois ou três funcionários, incluindo o coveiro, agora tem mais de vinte e seis ou sete viaturas. Por uma nesga, ainda conseguiu ver que quem participa nas mesas eleitorais, recebe dinheiro por isso.

O monstro continuava a engordar e não demorará muito a rebentar! Não há monstro que aguente! Ele não queria ver esse epílogo e, por isso, fez um grande esforço para acordar porque, se isto era assim nas autarquias, muito pior seria na administração central.

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