Pela janela daquele terceiro
andar, ouvia o barulho da cidade, da maré a subir o Tejo e inalava o agradável
e fresco odor da Ribeira.
Com os cotovelos no parapeito daquela
janela do terceiro andar acompanhava o movimento solar e o lançamento de âncora,
bem no meio do mar da palha, do grande petroleiro na fila da doca seca.
Daquele andar, terceiro se
contado pela do Alecrim e tão alto que a minha janela dava para as águas
furtadas do da frente, cheirava a sardinhas que já assavam no
carvoeiro da esquina da das Flores com a de S. Paulo.
Naquela janela ficava, observava,
sentia e adivinhava quem se transportava nos amarelos, nos verdes de dois
pisos, nos táxis e nos carros pretos do estado.
Da janela do terceiro andar podia
contar as peças de roupa que secavam nos estendais e beirais nos telhados dos outros
prédios.
Eu sei que foi daquela janela que
quis ver o mundo. Corri, fui ver e o tempo também correu.
Correu e não dei por isso!
Silvestre Félix
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