Não estava
certo que o sofrimento dos portugueses chamados “retornados” das ex-Colónias
tivesse sido minimizado, ignorado e tantas vezes usado como bola de ping-pong no
jogo político do PREC e dos tempos
seguintes.
Nos últimos
anos tem aparecido vasta literatura sobre o tema. Algumas obras boas e
esclarecedoras da situação, outras más e que carregam nostalgias contra naturas
e historicamente desadequadas. Nem todos, na verdade só uma minoria, eram
racistas e aplicavam a dose colonialista com o que de pior se entende.
É verdade
que os portugueses que fugiram das ex-colónias
nem sempre foram bem tratados aqui. Ainda hoje a expressão “retornado” tem uma carga pejorativa desproporcionada.
Foram, duma forma geral e nos primeiros tempos, injustamente marginalizados.
O que aqui
estou a escrever tem a ver com a transmissão pela RTP da série “E Depois do
Adeus”. É exatamente sobre aquela época e aborda a questão dos refugiados
das ex-colónias. É um documento sobre
a nossa história contemporânea e merece ser visto nessa perspetiva. No entanto,
e considerando os tempos conturbados de agora e a caminhada da deriva
ultraliberal em curso, tenho receio que, o que na altura foi certo vire errado
e o errado passe a certo.
Não podemos esquecer
que houve culpados de todos os sofrimentos de há 40 e 50 anos. No pós-guerra (finais década de 40 e durante a de 50 do
século passado), as democracias europeias trataram de dar um final aos seus
impérios e fizeram as descolonizações acautelando os interesses nacionais e dos
cidadãos residentes nas colónias.
No nosso caso o que foi feito? Salazar, quis escrever a história ao
contrário e impôs o maior sofrimento jamais aplicado por um governante nacional
aos seus e aos povos das ex-colónias –
a guerra! Foram 13 anos de mortes e estropiados de todos os lados. Aqui está a
verdadeira culpa! Salazar e os seus
apaniguados fascistas.
Para
contrabalançar a perigosa “onda” acusatória
de alguns acontecimentos após 25 de Abril, aconselho a leitura de “OS
CUS DE JUDAS” de António Lobo Antunes. Nunca li
narrativa que melhor me “mostrasse”
os horrores e as culpas da Guerra Colonial. E, para quem ainda
tem alguma dificuldade em lidar com a genialidade da escrita de António
Lobo Antunes, o romance “Os Cus de Judas” é o ideal para a
ultrapassar, como aconteceu comigo. Este romance é o segundo da sua
bibliografia oficial e foi publicado em 1979.
A 30ª edição
desta obra é das Publicações D. Quixote
do universo Leya e a versão bolso da BIS de Dezembro de 2010. Ainda se vai
vendo por aí.
Silvestre Félix
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