Os passantes não param! Andam,
andam…quase correm para não chegarem atrasados ao trabalho, se for de manhã, ou
ao comboio, se for ao final do dia. O bitoque
do Califórnia fica para quem lá está e o digestivo do Brithis Bar fica para os que lá vão…e não são os
passantes…na paralela o Tejo sempre
acompanhava o andamento olhando para a doca da “Lisnave” que rivalizava em visibilidade com o Cristo Rei.
Observando e ouvindo aquelas
passadas com ritmo certo e habituado ao terreno todos os dias pisado.
Tantos rostos cruzados, tantos
olhares vistos e a escuridão permanece!
A Intersindical, acabada de nascer, ainda não era CGTP. Os bancários já andavam em luta e
atenderam aos balcões de gravata preta. A pide que era DGS, ouvia, prendia e
torturava e os militares continuavam a chegar ao cais de Alcântara e Rocha para um navio a abarrotar os levar até “às Áfricas”. Tudo acontecia lá sem se
saber muito bem o quê. Por cá, todos os dias lá passavam à frente mas não sabiam
nada do Brithis Bar nem do Califórnia, quanto mais das Guerras “nas Áfricas”.
Só algum tempo mais, contado p’raí
em três ou quatro anos, os passantes viram os enormes caixotes de madeira
descarregados e deixados no mesmo cais donde embarcavam os “magalas”. Viam os caixotes
com nomes escritos em parangonas mas não imaginavam que, dentro de cada um
deles, estava uma vida inteira.
Daquela Janela do Terceiro Andar,
conseguia ver o tempo…
Silvestre Félix
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