MARECHAL SPÍNOLA

O que Cavaco Silva disse ontem sobre Spínola, não passa de um registo circunstancial, a propósito da comemoração dos 100 anos de nascimento do Marechal, e no meio da inauguração de uma avenida em Lisboa com o seu nome.

O merecimento de homenagem nacional nunca será reconhecido por parte considerável de portugueses, o que, aliás, acontece também em relação a muitas estátuas, bustos e placas toponímicas, existentes em Lisboa e por esse País fora.

Todos sabemos que o actual Presidente da República não é tão entusiasta nos elogios a Spínola, como é, o Ex-Presidente Mário Soares. O “pai” dos socialistas portugueses, sempre teve uma adoração desmedida pelo homem do monóculo. Esta postura de Soares, em relação a Spínola, causou alguns desgostos aos seus (também) amigos militares do “Grupo dos Nove” (tendência vencedora no 25 de Novembro), que, como se sabe, na sua maioria, não morriam de amores pelo (na época) General.

Na verdade, se do ponto de vista militar, ou, pelo menos, no comando de homens, Spínola esteve entre os melhores, e a sua acção na Guiné, é disso um bom exemplo, a sua intervenção política viria a revelar-se um estrondoso falhanço.

Quando aceitou receber simbolicamente o poder das mãos de Marcelo Caetano, na tarde de 25 de Abril no Quartel do Carmo, sabia que estava a assumir um compromisso com quem tinha deposto o regime – O Movimento dos Capitães que, em 25 de Abril, já era Movimento das Forças Armadas. O grande equívoco de Spínola, começa quando pretende “rasgar” o programa do MFA e fazer as coisas à sua maneira. A sua estada no Palácio de Belém até 28 de Setembro de 1974, data da sua resignação, foi um permanente desassossego com posições e acções de afrontamento ao MFA, destacando-se a sua vontade do não reconhecimento imediato da autodeterminação e independência das colónias, ou seja, a guerra colonial continuaria sem fim à vista.

Sabendo-se que o final da guerra, e a consequente descolonização, a par da institucionalização da democracia política, era o principal objectivo da luta do Movimento dos Capitães, conclui-se, como inaceitável, a posição inflexível de Spínola, materializada na sua saída de Belém cinco meses depois do 25 de Abril.

Até esta altura, todos os factos são históricos e indesmentíveis. Já as outras culpas, que alguns lhe atribuem – Alegado envolvimento no 11 de Março, organização e direcção do MDLP e mais acções classificadas reaccionárias e mesmo criminosas – não estão cobertas com nenhuma prova factual, restando por isso, muitas dúvidas relativamente ao seu comportamento.

Mário Soares, enquanto Presidente da República, reabilita Spínola em 1987, condecorando-o com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Torre e Espada e nomeando-o Chanceler das Antigas Ordens Militares.

SBF

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