Às cinco da manhã deste dia vinte e sete de Novembro de há trinta e três anos passados em tempo, aquela monstruosa “berliere” do Exército Português depositou-me em domicílio oficial, não fosse o recolher obrigatório agir em conformidade e apanhar-me desamparado numa qualquer estrada da vida, naquele final de PREC neste “jardim à beira mar plantado”.
Quando os comandos tomaram de assalto o quartel, já não havia nenhum miliciano armado. Horas antes, “requisitamos” uma grande dose de bom senso e arrecadamos todas as armas.
A noite fria de Novembro e fim de PREC, ia andando depressa quando eles chegaram de surpresa. Vinham mascarados e armados até aos dentes com lição estudada para humilhar os que cá estavam.
Muitos dos que cá estavam já dormiam e foram também obrigados a formar na parada mesmo em cuecas. Em formatura pela madrugada, os que cá estavam, ouviram nomes ofensivos e sentiram muitos empurrões.
Ofendido fiquei, não pela situação mas pelos nomes que me chamaram. Em pouco mais de uma hora, tinha um “passaporte” militar na mão e transporte garantido até casa.
Duas ou três da manhã começou a distribuição. A “berliere” roncava no final do PREC de recolher obrigatório pela marginal fora até Santa Apolónia. Aí, ia deixar alguns camaradas também expulsos que, “recolhidos”, tomariam o “pouca-terra-pouca-terra” em direcção ao norte. Noutras paragens, à volta da Capital, a “berliere” ia tomando a direcção da segunda-circular para apanhar a estrada de Sintra desde o cruzamento da Buraca. A “berliere” continuava a roncar quando passou ao lado do quartel dos “comandos” e eu, sem dar por isso, voltei-me de costas.
Desconfiado fiquei. Cheguei a considerar possível que no dia seguinte, algum PIDE ressuscitado, me fosse buscar a casa.
A história certa do 25 de Novembro de 1975, ainda, nalgum tempo, há-de ser contada.
SBF
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