Foi concerteza entre setenta e um setenta e dois, época em que o Fidel Castro e o Che Guevara eram venerados como exemplos de heroísmo, que comecei a ter acesso a boletins de movimentos universitários que contestavam abertamente o regime, porque embora não fosse estudante daquele grau de ensino, tinha na minha roda de amigos alguns universitários. Num tempo em que ler um livro ou um jornal num transporte público podia ser perigoso se estivéssemos em presença de livro estrangeiro ou Português mas que tivesse sido vítima da "comissão de censura", e o jornal bastava que fosse "O República", era vespertino e comecei a lê-lo diariamente, (excepto nos dias em que a censura cortava tanto que tinham que suspender a edição) aí a partir de setenta e dois. Ler o República naquela época era como fazer palavras cruzadas, ou cruzadexes, porque as notícias só conseguiam passar as malhas da censura, nas entrelinhas, ou seja era preciso algum treino para perceber determinadas notícias. Quanto aos livros, se estavam naquele lote suspeito, aprendíamos a forrá-los mas não de papel liso, porque também dava para desconfiar, tinha que ser papel que se confundisse com uma capa normal. Era assim há trinta e cinco anos atrás, e ainda andam por ai alguns a dizer que em Portugal nunca existiu ditadura.
O Che Guevara morreu nas montanhas da Bolívia em 1967 depois de ter deixado o seu lugar de super-ministro no governo revolucionário de Cuba, para continuar a luta de libertação da América Latina mais a sul. Fidel de Castro, quarenta e um anos depois, ainda vivo mas com graves problemas de saúde, deixou formalmente o poder.
Concorde-se ou não com o regime Cubano, é inegável que é o fim de uma era. Cuba e a sua revolução foram o ideário de muita gente da minha geração. Entretanto o mundo muda, a universalidade de qualquer ponto na Terra obrigava a que, mesmo Cuba, tivesse que mudar alguma coisa, e, nesse aspecto, acho que Fidel e o seu regime não foram inteligentes. Agora ou daqui a mais algum (pouco) tempo, muito provavelmente as coisas mudarão e duma forma drástica, e aí, todos vão sofrer um mau bocado. É um bocado do meu tempo que acaba.
Zambi
Fevereiro de 2008
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